É professora da FGV e professora-visitante de Harvard. Foi diretora de Educação do Bird, secretária de Educação do Rio e ministra da Administração. Escreve às sextas-feiras.
Charlottesville mostra a urgência do ensino do Holocausto nas escolas
Mykal McEldowney/The Indianapolis Star/Associated Press | ||
Protesto de neonazistas e supremacistas brancos em Charlottesville, nos EUA |
Assistindo aos vídeos sobre Charlottesville e às ambíguas declarações da Casa Branca sobre o episódio, ocorreu-me que nunca foi tão urgente ensinar sobre o Holocausto e incluí-lo nos currículos escolares. As lições do passado precisam ser repassadas às novas gerações para diminuir o risco de repetirmos os mesmos erros.
A geração que vivenciou o drama está indo embora e, em breve, os supremacistas brancos e o discurso de ódio parecerão novidades, prontas a inflamar jovens frustrados com um presente infeliz, ansiosos para encontrar inimigos e saídas tão fáceis quanto equivocadas. A busca de culpados externos para os nossos males tem sido um expediente frequente de políticos manipuladores e caem bem em populações sem amadurecimento político.
Daí a urgência de avançar na Base Nacional Comum Curricular, que vem sendo debatida em audiências públicas pelo Conselho Nacional de Educação, e fortalecê-la com um bom conjunto e sequenciamento de conhecimentos, habilidades e competências. Um país com uma educação de qualidade sofrível se torna captura fácil de líderes fisiológicos ou messiânicos, que ou pensam pequeno ou buscam anular o potencial de contribuição dos indivíduos.
São conteúdos associados à competência de ler e interpretar textos, pesquisar, pensar criticamente e resolver problemas que podem ajudar a formar jovens autônomos e cidadãos plenos. Além disso, entender bem os desafios vividos pela humanidade no século 20 e como eles se transpõem para nosso século permite uma compreensão mais profunda do que está em jogo hoje.
A Base incorpora competências socioemocionais no trabalho a ser desenvolvido pelas redes de ensino. Isso significa que os professores irão promover atividades em que, além de aprenderem conceitos e aplicá-los em situações concretas, os alunos serão instados a ser protagonistas, ter empatia, persistência e resiliência.
Ora, não é possível desenvolver essas competências e, ao mesmo tempo, mostrar-se alheio ao sofrimento de partes importantes da população. Um jovem que consegue ter empatia tende a não discriminar ou olhar para o outro com desprezo.
Para que a Base tenha impacto, naturalmente, não basta que ela seja aprovada e traduzida em currículos estaduais e municipais. É igualmente importante formar professores aptos a desenvolver esse trabalho, daí a importância de complementá-la com parâmetros para a formação e seleção de professores.
Um esforço como esse não resolve sozinho o problema das ameaças que se vislumbram no mundo hoje, mas pode atuar como uma preparação de cidadãos mais aptos a resistir a visões que propõem o extermínio dos diferentes. "No pasarán!"
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