Jornalista foi correspondente em Londres, editor do 'Folhateen' e de Fotografia e diretor da sucursal Rio.
Escreve às quintas.
Tumulto
RIO DE JANEIRO - Isto é o Rio sob pressão: um menino é morto, supostamente por uma bala perdida, e em protesto ônibus são incendiados, estações de BRT –uma das obras de legado da Olimpíada– são depredadas, o caos se instala em Madureira. Outro menino é morto em circunstâncias parecidas, na Baixada Fluminense, e a história se repete: 12 ônibus queimados.
Servidores públicos do Estado, com salários atrasados e há meses sem data certa para receber, protestam quase diariamente na frente do palácio do governo e da Assembleia Legislativa, não raro entrando em confronto com a polícia.
Se perde para São Paulo em número de gente nas mobilizações pró e contra o impeachment, o Rio lidera com folga em quantidade de protestos: na capital e no Estado, é difícil encontrar alguém satisfeito hoje em dia, e essa insatisfação está cada vez mais indo às ruas. Não há nenhuma perspectiva de que isso vá melhorar até agosto, quando o circo olímpico chega à cidade, ao contrário.
Nos meses que antecederam a Copa-2014, muito se falou nos protestos contra o evento e contra os governantes, o "não vai ter Copa". Havia grande temor entre os políticos e os cartolas, reverberado pela imprensa, sobre o clima infernal em que o país sediaria o evento. Mas, quando ele chegou, o que não teve foi protesto.
Nos meses que antecedem a Rio-2016, pouco se fala em protestos contra a Olimpíada. Eles existem –vide o movimento contra as remoções da Vila Autódromo–, mas não repercutem como o "não vai ter Copa". Nem governo nem imprensa parecem preocupados com as chances de os cariocas decidirem ir às ruas para se fazer ouvir durante os Jogos, cientes da visibilidade planetária que terão. Mas os sinais de que pode haver uma nova reversão das expectativas –dessa vez, para pior– estão todos aí.
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