Dentro e fora dos estádios, Copa América se volta para os latinos
Em 3 de junho, na véspera da estreia do Brasil na Copa América Centenário nos EUA, a cerca de 2 km do estádio Rose Bowl, em Pasadena, na Califórnia, um letreiro explicava em inglês e espanhol que o torneio teria início e que ruas estariam fechadas nos próximos dias na região.
Cidade com apenas 140 mil habitantes, mas acostumada a grandes eventos por ter o Rose Bowl como importante palco e fonte de renda, Pasadena se preparava para receber uma legião de brasileiros, colombianos e mexicanos, que se deslocariam até lá para torcer por suas seleções nos três jogos do torneio com o Rose Bowl como sede.
"Meu locatário me perguntou o que era essa Copa Soccer [como os americanos conhecem o futebol] e se seleções da Europa estariam. Lembrou de 1994, da Copa do Mundo. Disse a ele que seria o torneio das Américas na América", disse Francisco Santana, 47, que fazia a segurança na porta do Rose Bowl.
Natural da Guatemala, Santana deu a definição formal, mas, na prática, não é bem assim. É um torneio sobretudo para torcedores latinos, com participação especial de alguns americanos.
"Meu filho é nascido aqui, meu marido é americano. Ele [seu filho, Leonard, de 13 anos] nunca foi ao Brasil, mas adora futebol. Então viemos", disse Rosa Maria Clarence, 43, que vestia a camisa da seleção antes de Brasil x Haiti, quarta (8), em Orlando.
Em restaurantes e bares do país, mal se vê TVs exibindo a Copa América. As finais da NBA, a liga de basquete, e da NHL, a de hóquei, têm muito mais visibilidade.
A cobertura do evento é escassa nas redes abertas americanas e nos grandes jornais, mas tem espaço generoso nos veículos em espanhol. A Univision, rede aberta voltada ao público latino, tem transmitido as partidas.
O alvo dos organizadores, contudo, são os torcedores nos estádios.
JOGANDO EM CASA
Por meio dos dados fornecidos para a compra do ingresso online, a organização da Copa América pretende, ao final do torneio, montar um mapa da nacionalidade das pessoas que foram ao evento no país.
Mas já se percebe que prevalecem os torcedores latinos, a maioria residente nos EUA. Ao fazer a tabela do torneio, a US Soccer, a federação norte-americana, após definir que EUA, México, Brasil e Argentina seriam os cabeças de chave, levou em consideração que essas seleções atuassem em regiões em que houvesse grandes comunidades dos seus países.
As maiores concentrações de brasileiros se dão no Estado de Massachusetts (onde está a cidade de Foxborough, ao lado de Boston, palco de Brasil e Peru neste domingo); na Califórnia, onde o time de Dunga empatou com o Equador; na Florida, onde goleou o Haiti; em Nova Jersey, onde jogará as quartas de final se avançar em primeiro do Grupo B; e em Connecticut, que não sedia partidas.
Mas a sensação, de fato, é o México, que tem sido tratado pela imprensa local como os verdadeiros donos da casa. Na estreia, 3 a 1 no Uruguai, foram mais de 60 mil pessoas no Arizona em estádio em que cabem 63 mil. Na quinta (9), foram mais de 83 mil no Rose Bowl, com capacidade para pouco mais de 90 mil, nos 2 a 0 sobre Jamaica.
"Jogar na Califórnia é como jogar em casa. Talvez nem na Cidade do México tenha tantos mexicanos", brincou Javier Narazi, que chegou à Pasadena para ver Brasil e Equador e ficaria até o duelo de seu país contra os jamaicanos. O Censo americano estima que mais de 11 milhões de mexicanos vivam nos EUA.
O protagonismo do México já rendeu até reclamações. O presidente da Associação Uruguaia de Futebol, Wilmar Valdez, disse a uma rádio do seu país que tinha a impressão que era um torneio "armado para o México vencer".
"Até cerveja os torcedores mexicanos jogaram na gente. Não é possível que isso ocorra num torneio desse porte", disse Valdez.
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