Computador julga 'caráter' para dar crédito
Algoritmo considera características como nota na escola para avaliar risco do cliente
Os computadores já não se limitam a resolver problemas matemáticos e a nos mostrar vídeos de gatos. Eles cada vez mais julgam nosso caráter. E talvez devêssemos agradecer.
Uma companhia chamada Upstart, de Palo Alto, Califórnia, emprestou nos últimos 15 meses US$ 135 milhões a pessoas com histórico de crédito desfavorável. Tipicamente, são recém-formados sem hipotecas, financiamentos de carros ou dívidas no cartão.
Essas são normalmente as coisas que valem um bom ou mau histórico de crédito a um consumidor, mas as pessoas beneficiadas não têm um histórico de emprego longo. Por isso, a Upstart leva em consideração seus resultados em exames como o SAT –uma espécie de Enem americano–, as faculdades em que estudaram, suas áreas de graduação e suas notas no ensino superior. A empresa, mais que considerar suas perspectivas de emprego, avalia as suas personalidades.
"Se você tomar duas pessoas com o mesmo emprego e circunstâncias, como ter cinco filhos, cinco anos mais tarde a que teve notas mais altas na universidade apresentará probabilidade superior de pagar uma dívida", diz Paul Gu, cofundador da Upstart.
"Não é só poder pagar ou não, mas sim a importância que a pessoa confere às suas obrigações."
A ideia, validada por dados, é que pessoas que prestavam mais atenção a seus trabalhos escolares ou estudavam por conta própria porque uma prova de improviso podia ser aplicada são mais minuciosas e apresentam maior probabilidade de honrar suas dívidas.
E é assim que os recursos analíticos da era da informação confluem com o julgamento de pessoas.
"Poderíamos definir essa qualidade como caráter, ainda que não seja um rótulo que usemos", disse Gu, 24.
A mesma dinâmica de personalidade se aplica a pessoas que conseguiram vaga em ótimas escolas ou obtiveram notas excelentes.
Douglas Merrill, presidente-executivo da Zest Finance, é um antigo executivo do Google cuja companhia oferece empréstimos a mutuários com histórico de crédito abaixo da norma, com base em dados não padronizados.
CELULAR PRÉ-PAGO
Um desses sinais é se a pessoa já abandonou um número de celular pré-pago. Em casos nos quais a situação de moradia é vezes incerta, um número de celular é muitas vezes a maneira mais confiável de localizar uma pessoa do que seu endereço; e, portanto, abandoná-lo pode indicar que a pessoa está disposta a desaparecer, tanto diante de sua família quanto diante de potenciais empregadores. E isso é mau sinal.
A Zest recentemente começou a trabalhar com clientes "quase padrão", aqueles que decaíram das categorias de crédito mais altas ou estão ascendendo das mais baixas.
A questão é determinar por que essas pessoas mudaram de categoria, e a Zest tenta descobrir se um devedor potencialmente confiável passou por alguma má sorte temporária, por exemplo despesas medidas imprevistas.
"'Caráter' é um termo com uma carga problemática, mas existe uma diferença importante entre capacidade e disposição de pagar", diz Merrill.
"Se você se limitar a observar as transações financeiras, será difícil dizer alguma coisa sobre a disposição de pagar."