Chávez e Lula não se falaram por 7 meses, diz telegrama
Relato de embaixador em 2007 afirma que rompimento se deu após venezuelano chamar Congresso brasileiro de 'papagaio' dos EUA
Um telegrama produzido pela Embaixada do Brasil na Venezuela revela que os então presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Hugo Chávez (1954-2013) ficaram sete meses sem conversar, logo após o venezuelano ter chamado o Congresso brasileiro de "papagaio" dos Estados Unidos.
O congelamento das relações ocorreu em 2007, segundo telegrama do embaixador em Caracas Antônio José Ferreira Simões datado de março de 2009 --classificado como "reservado", o documento foi tornado público nesta terça-feira (19) pelo Ministério das Relações Exteriores, ao atender a um pedido da revista "Época" por meio da Lei de Acesso à Informação.
"No contexto das declarações do presidente Chávez sobre o Congresso Nacional brasileiro, os dois presidentes ficaram sem encontrar-se ou falar por telefone durante sete meses", escreveu o embaixador, que hoje ocupa no Itamaraty o cargo de subsecretário-geral da América do Sul, Central e do Caribe.
As relações entre Lula e Chávez foram retomadas por volta de setembro de 2007, quando começou uma série de cinco encontros realizados trimestralmente. Logo após a morte de Chávez, em 2013, o Instituto Lula divulgou um vídeo em que o petista fez diversos elogios ao venezuelano, com quem disse ter "boa afinidade ideológica" e uma relação que extrapolava a de dois presidentes. No vídeo, Lula não falou sobre o congelamento de comunicação.
De acordo com o telegrama enviado pelo embaixador Simões ao Itamaraty, apesar de alguns tropeços, a relação entre Brasil e Venezuela atingiu níveis sem precedentes durante as gestões de Lula e Chávez, o que tornou o Brasil um parceiro preferencial de negócios.
O comércio bilateral, segundo Simões, registrou um aumento médio próximo de 10% ao ano desde a posse de Lula, em 2003, passando de US$ 880 milhões para US$ 6 bilhões em 2009. A Venezuela passou "a representar uma plataforma central para o processo de internacionalização das empresas brasileiras", que "ganharam projeção nos setores de obras públicas, fornecimento de equipamentos industriais e agrícolas, petroquímica e bens de consumo (Odebrecht, Cotia Trading, Volvo do Brasil, Avibrás, Braskem, Brahma, Sadia, Natura, entre outras)".