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Dos paradoxos à paz
Se no final de 2013 havia razoáveis esperanças de que o processo de paz entre israelenses e palestinos pudesse avançar, elas agora parecem mais remotas.
Negociações entre as duas partes começaram em julho de 2013, sob os auspícios de um governo norte-americano ansioso para mostrar serviço na área externa. Fracassaram em abril deste ano, contudo; de lá para cá, israelenses e palestinos adotaram medidas mais propensas a provocar o adversário do que a buscar entendimento.
O governo de Israel, liderado pelo direitista Binyamin Netanyahu, divulgou planos de ampliar os assentamentos judaicos em Jerusalém Oriental, iniciativa contrária à lógica do processo de paz.
Não bastasse isso, também se engajou em manobras para inscrever nas Leis Básicas de Israel (espécie de Constituição) provisões que garantissem o "caráter judaico" do Estado --um forte golpe contra a minoria de cidadãos árabes do país.
Do lado palestino, Mahmoud Abbas, do Fatah, que controla a Cisjordânia, anunciou um governo de união nacional com o Hamas, facção palestina rival que comanda a faixa de Gaza. Esta organização, entretanto, não reconhece o direito de Israel de existir.
Paralelamente, os palestinos obtiveram de vários países europeus o reconhecimento de seu Estado, o que contribuiu para isolar Israel.
A questão política, porém, não avançou. O acerto entre o Fatah e o Hamas fracassou, e a legitimidade de Abbas é questionada.
Num paradoxo, os passos de enfrentamento dados por Netanyahu trazem a perspectiva de que a situação possa mudar no curto prazo, encerrando o círculo vicioso.
É que a tentativa de inserir a religião judaica como traço constitutivo do Estado de Israel levou ao rompimento da coalizão governista. Netanyahu demitiu dois ministros que se opuseram à medida e convocou eleições para março, dois anos antes do prazo. À época, isto é, no início de dezembro, as pesquisas indicavam seu partido, o Likud, como favorito.
A situação, porém, parece estar mudando. A aliança entre o Hatnuah (liberal) e os trabalhistas (centro-esquerda) tem aparecido na frente nas sondagens.
Embora o entendimento com os palestinos não seja o principal tema da campanha, voltada sobretudo a assuntos domésticos, não é impossível que, em março, os israelenses escolham um governo mais comprometido com a paz.
Se até Cuba e EUA retomaram relações diplomáticas, o fim do conflito entre israelenses e palestinos tampouco há de ser impossível.