Vinicius Mota
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SÃO PAULO - Para cada 100 pessoas em idade de trabalhar no Brasil de hoje, há 12 na faixa coincidente com a aposentadoria (65 anos ou mais de idade) e 33 crianças e adolescentes que não completaram 15 anos. Tudo somado e grosso modo, a atividade de cada centena de brasileiros sustenta, além de a eles próprios, outros 45 ainda ou já inativos.
Trata-se de excelente proporção, bastante favorável ao crescimento da produção e da riqueza. No Japão, cada grupo de 100 trabalhadores tem de sustentar 65 inativos. Mesmo nos pujantes Estados Unidos, há 52 fora do mercado para cada centena na faixa etária mais propícia à labuta.
No Brasil de 1970, a taxa de dependência era elevadíssima (85 dependentes para cada 100 trabalhadores), explicada pelo volume da população infantil. No Brasil de 2050, o peso relativo dos inativos voltará a aumentar, aproximando-se da cifra japonesa de hoje, desta feita impulsionado pelo crescimento da fatia idosa.
Seja na comparação com o seu passado, seja no cotejo com a trajetória de outros países, a demografia do Brasil encara agora uma batalha decisiva sob a perspectiva do desenvolvimento. Seria o momento de crescer, enriquecer e elevar a produtividade dos trabalhadores, para viabilizar o bem-estar de uma sociedade prestes a precipitar-se na ladeira do envelhecimento.
A estagnação da economia brasileira, portanto, chega em péssima hora. O ajuste financeiro politicamente possível piora a situação ao interromper, e em parte destruir, um ciclo de investimentos em infraestrutura que apenas começava.
A ineficiência acarretada pela escassez e pela má qualidade de ferrovias, estradas, portos, aeroportos, geração de energia e transporte urbano vai se propagar por todos os compartimentos da economia durante anos. A força de trabalho do Brasil, justo quando tem mais energia para decolar, ganha asas de chumbo.