Passados 20 anos, mostra avalia legado do manifesto Dogma 95
Vinte anos depois de proclamado com alarido, o Dogma 95 ganha mostra em São Paulo, desta quarta-feira (2) até o dia 14 de setembro, no Centro Cultural Banco do Brasil, que reúne 16 títulos relacionados ao movimento.
O manifesto, que foi redigido em cerca de meia hora pelos cineastas dinamarqueses Lars von Trier e Thomas Vinteberg, contém dez mandamentos (ou "votos de castidade"), algo como a bula de um antídoto ao cinemão.
Contra a ditadura do espetáculo, contra o cinema hiper pós-produzido e plastificado, o Dogma 95 proclamava uma estética ascética, um retorno à imagem sem manipulações (se é que isso algum dia existiu), feita com câmera na mão, sem uso de filtros ou de iluminação especial.
Ou seja, uma rebelião em forma de provocação para dizer que o cinema podia ser outra coisa além de uma droga uniforme.
Divulgação | ||
Cena do filme 'O Rei Está Vivo', de Kristian Levring |
Se o aniversário justifica a celebração, a apresentação dos filmes permite reavaliar o legado do movimento lançado em 1995, ano do centenário do cinema.
Em 1998, "Festa de Família" (Vintenberg) e "Os Idiotas" (Von Trier) chegaram a Cannes ostentando o status da competição oficial. O primeiro foi consagrado com o Prêmio do Júri.
Nos anos seguintes, títulos como "Mifune", "O Rei Está Vivo", "Italiano para Principiantes" e "Corações Livres" abocanharam prêmios.
O voto de castidade virou tique de estilo, o cinema dinamarquês reconquistou uma projeção que não tinha desde os anos 1920 e o grupo relativamente talentoso de diretores manteve-se em evidência.
Divulgação | ||
Cena do filme 'Os Idiotas', do cineasta dinamarquês Lars Von Trier |
Além disso, o Dogma passou a oferecer seu atestado de pureza a produções mundo afora, numa lista que atualmente chega a 332 títulos.
A mostra ajuda a entender que, se havia uma vocação libertária conectada ao golpe de marketing, esse efeito logo se esvaziou com os rumos retomados por seus adeptos.
Os filmes posteriores de Vintenberg, Susanne Bier ou Lone Scherfig demonstram que a adesão era motivada menos por credo estética que por oportunismo.
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