Venezuela diz que ainda não recebeu pedido de asilo de Snowden
A Venezuela negou na noite de sábado que tenha recebido pedido de asilo do técnico de informática Edward Snowden, que revelou o esquema de espionagem de dados de internet e telefone feito pelos Estados Unidos. Na sexta (5), o venezuelano Nicolás Maduro ofereceu abrigo ao delator.
Além da Venezuela, a Bolívia e a Nicarágua também manifestaram a intenção de dar asilo a Snowden. No caso boliviano, foi uma represália ao bloqueio feito por países europeus ao avião do presidente Evo Morales, na última terça (2), após suspeita de que o informante estivesse a bordo.
Em entrevista coletiva, o ministro das Relações Exteriores, Elías Jaua, disse que fará uma reunião na segunda (8) com integrantes do governo da Rússia para discutir sobre a logística do asilo. Snowden está na área de trânsito do aeroporto de Sheremetyevo, em Moscou, desde 23 de junho.
Caso decida ir a um dos países que lhe ofereceu asilo, no entanto, poderá encontrar dificuldades. O único voo comercial que chega à região é para Havana, em Cuba, mas teria que passar pelo espaço aéreo europeu para chegar lá, o que pode gerar novos bloqueios como os ocorridos com Morales.
O delator pediu asilo diplomático a 27 países, dentre eles o Brasil. Sua extradição é pedida por Washington, que o acusam de roubo, transferência de propriedade do governo e espionagem, o que pode lhe render até 30 anos de prisão.
Apesar de terem oferecido asilo a Snowden, Bolívia, Venezuela e Nicarágua possuem tratado de extradição com os Estados Unidos. Caso este seja quebrado, pode haver uma nova crise diplomática entre os americanos e os três países, que possuem governos resistentes à influência de Washington.
Neste domingo, a imprensa da Nicarágua apresentou um documento que diz ser o pedido de asilo do delator ao presidente Daniel Ortega. A correspondência menciona o risco de julgamento injusto e compara o caso ao de Bradley Manning, que pode ser condenado à morte nos Estados Unidos por vazar dados ao WikiLeaks.
ENTREVISTA
A revista alemã "Der Spiegel" publicou neste fim de semana outra entrevista de Snowden, feita antes da revelação dos esquemas de monitoramento. Ele diz que a Agência de Segurança Nacional americana (NSA, em inglês) compartilhava dados e recebia a cooperação de diversos países, dentre eles a Alemanha.
Para Snowden, a cooperação entre a NSA e os demais países é concebida de tal maneira que "proteja seus líderes políticos da indignação pública" caso seja divulgada "a forma pela qual violam claramente a vida privada no mundo".
A NSA, cujo material foi divulgado por Snowden, é uma das organizações mais sigilosas do mundo. De acordo com as informações apresentadas pelo delator, a agência monitorou os registros de ligações de milhões de telefones da Verizon, segunda maior companhia telefônica dos EUA.
Também foram verificados dados de usuários de internet de todo o mundo em empresas de internet como Google, Facebook, Microsoft e Apple. O escândalo causou críticas ao presidente Barack Obama, que combateu a espionagem feita pelas agências quando fazia oposição ao republicano George W. Bush.
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