Em despedida, Obama brinca que vai cassar aposentadoria de comediante
"Não acredito que você vai antes de mim. Vou expedir um mandato executivo. Jon Stewart não pode deixar o show. Está sendo questionado na Justiça."
Começou com essa brincadeira a despedida do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, do apresentador do programa "The Daily Show" na noite de terça (21).
Evan Vucci - 21.jul.2015/AP | ||
Jon Stewart (à dir.) recebe Obama no programa "The Daily Show" pela última vez |
Despedida ao menos na bancada da atração.
Stewart está a duas semanas de encerrar sua temporada de 16 anos à frente de um dos programas mais populares da televisão americana. Obama está a menos de 18 meses de deixar a Casa Branca.
"Para mim, é uma questão de Estado", devolveu o apresentador.
Foram sete encontros. Três em que Obama era presidente.
As aparições foram sempre estratégicas. Stewart tem uma audiência jovem que se informa basicamente por meio de seu programa e representa uma parcela importante do eleitorado.
As conversas versaram sobre temas constantes no noticiário. No encontro em 2012, por exemplo, eles falaram sobre o ataque terrorista na Líbia que deixou quatro americanos mortos.
Em 2008, fizeram piadas sobre a eleição que elegeria Obama. "Com o tipo de questões que você está enfrentando agora, de alguma maneira, você pode não querer mais ser presidente? Como se o carro que você comprou não fosse tão novo assim?", provocou Stewart.
Obama, claro, disse seríssimo que queria ser presidente. "Agora é a hora de poder causar algum impacto", respondeu.
Na última edição, Obama gozou da reação negativa enérgica ao acordo que seu governo e potências mundiais fizeram com o Irã: o fim gradual das sanções econômicas em troca da autorização para inspecionar locais suspeitos de fabricar arma nuclear.
Os críticos do acordo gostariam que Dick Cheney tivesse sido encarregado das negociações, ironizou Obama. "Eles parecem acreditar que, assim, tudo estaria bem."
Cheney, ex-vice-presidente dos Estados Unidos na gestão George Bush, defendeu durante anos uma intervenção militar no Irã.
Obama, apesar da piada, respondeu às críticas ao admitir que o Irã é um adversário anti-EUA e anti-Israel. "Não se sela a paz com amigos", constatou.
O presidente ponderou que os Estados Unidos não precisarão abrir mão de nada em troca do acordo e disse que o seu sucessor terá mais liberdade para atuar na nova conjuntura.
"O acordo foi ótimo", disse Stewart. "Voltaremos a falar nele quando os senadores o barrarem", brinco em referência à ameaça de republicanos no Congresso.
Obama falou sobre como os jovens do país e do mundo, ao contrário do que se costuma dizer, são sim mobilizados para ajudar ao próximo e defendeu medidas de incentivo como reduzir a mensalidade de universidades.
Stewart questionou se esse era um conselho que Obama dará a seu sucessor, o magnata Donald Trump, arrancando risadas do presidente e da plateia.
Trump é o pré-candidato republicano à Presidência mais ruidoso da campanha até agora, fazendo acusações e comentários agressivos com frequência.
"Tenho certeza de que os republicanos estão gostando do domínio do Trump na campanha", respondeu Obama.
"Qualquer coisa que os faça parecer menos doidos", encerrou Stewart.
O comediante sul-africano Trevor Noah assumirá o "Daily Show" no dia 28 de setembro.
Livraria da Folha
- Box de DVD reúne dupla de clássicos de Andrei Tarkóvski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade
- 'Fluxos em Cadeia' analisa funcionamento e cotidiano do sistema penitenciário
- Livro analisa comunicações políticas entre Portugal, Brasil e Angola
- Livro traz mais de cem receitas de saladas que promovem saciedade
Um mundo de muros
Em uma série de reportagens, a Folha vai a quatro continentes mostrar o que está por trás das barreiras que bloqueiam aqueles que consideram indesejáveis