Editorial: Europa em recuperação
Apesar das muitas incertezas em relação à dívida da Grécia, que no pior cenário pode se converter num calote com impactos danosos sobre outros países, as principais economias da Europa começam a apresentar resultados positivos, com aceleração do crescimento e criação mais rápida de empregos.
O PIB da zona do euro cresceu 1,6% (em termos anualizados) no primeiro trimestre de 2015. Dado relevante, França (2,4%), Espanha (3,6%) e Itália (1,2%), há pouco retraídas, não se saíram pior que a poderosa Alemanha (1,2%).
Um avanço por certo lento, mas consistente, que pode atingir cerca de 2% neste ano (a expansão em 2014 foi de apenas 0,8%).
Fatores que talvez se revelem temporários, contudo, favoreceram a retomada. A redução de 40% no preço do petróleo, por exemplo, derrubou a inflação (para zero nos 12 meses encerrados em abril) e propiciou o aumento da renda disponível para os consumidores e o fortalecimento das vendas no varejo.
A elevação do risco de deflação, que encarece as dívidas em relação a outros bens e serviços, ajudou a consolidar no Banco Central Europeu a disposição de pôr ainda mais dinheiro em circulação.
Em janeiro, o BCE anunciou a compra de papéis no valor de € 1 trilhão até setembro de 2016. Com isso, ajudou a desvalorizar o euro –a moeda mais barata impulsiona a competitividade e as exportações.
Parte desses estímulos, no entanto, começa a perder força. Nas últimas semanas, o preço do petróleo subiu e o impulso de desvalorização do euro foi parcialmente revertido. Permanecem, além disso, os problemas com a Grécia, cujas consequências incluem eventual ruptura com a moeda única.
As autoridades europeias têm sustentado que o abalo financeiro de uma saída grega seria controlável. Ainda assim, o solavanco na confiança poderia minar a recente recuperação. Também seria aberto um precedente contra o projeto do euro: se um país em dificuldade sair, outros naturalmente poderão fazer o mesmo em nova crise.
A Europa parece ter superado os piores momentos do pós-crise e se junta aos Estados Unidos na consolidação de um ritmo de crescimento mais forte.
Mas é preciso solucionar a equação grega e acelerar a criação de empregos nos países periféricos, de modo a reforçar a legitimidade do euro e controlar vocações separatistas que agremiações políticas radicais insistem em alimentar.
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