Na África do Sul, rinos têm chifres cortados para protegê-los da caça ilegal

Crédito: João Silva/"The New York Times" Homens tentam levantar rino que foi sedado e teve chifre retirado para evitar a caça ilegal
Homens tentam levantar rino que foi sedado e teve chifre retirado para evitar a caça ilegal

CLÁUDIA COLLUCCI
DE MPUMALANGA (ÁFRICA DO SUL)

Sob risco de extinção, rinocerontes estão tendo os chifres cortados preventivamente em parques nacionais e reservas privadas da África como forma de protegê-los da caça ilegal e da morte.

Na medicina tradicional asiática, os chifres são tidos como "remédios" para diversas doenças, que vão do câncer à impotência.

Eles contêm queratina, substância encontrada no cabelo e nas unhas e não há nenhuma evidência científica desses benefícios. Ainda assim, um quilo chega a ser vendido por US$ 60 mil. Em gramas, o valor supera ao do ouro e do diamante.

Na última década, estima-se ao menos 8.000 rinos foram mortos na África do Sul, país que abriga mais de 20 mil desses animais, 80% da população mundial da espécie.

Só em 2016, foram 1.054 mortes, quase três por dia, segundo a organização "Save the Rhino". A maior parte ocorreu no Kruger, uma área protegida de 19.485 km2 no nordeste sul-africano, que faz fronteira com Moçambique.

Ao contrário das presas de elefantes, os chifres dos rinocerontes voltam a crescer em até dois anos após a remoção. Mas os caçadores ilegais costumam matar os animais antes de remover os chifres.

No corte preventivo, são adotados vários procedimentos para que o animal não sofra, como a sedação.

A Namíbia foi o primeiro país a cortar preventivamente os chifres e diz que conseguiu praticamente zerar a matança. Depois, foi seguido pelo Zimbábue.

Nos últimos anos, reservas privadas da África do Sul, que que detém um terço dos rinocerontes, também vêm adotando a medida e observando redução de mortes.

Depois de cortados, os chifres, são pesados, etiquetados e guardados em segurança fora das reservas.

Para os ambientalistas, porém, apenas o corte de chifres não é suficiente para proteger os rinos. Alguns parques nacionais do Zimbabwe, por exemplo, registraram mortes de rinos sem os chifres.

Ocorre que, após a remoção, ainda fica um pedaço (cerca de 10%) para que não haja refluxo do novo corno. Então, mesmo menos lucrativo, esse pedaço ainda pode render alguns dólares.

Outra hipótese é que a matança ocorra por vingança –pelo fato de o chifre já ter sido previamente retirado– ou porque o caçador só percebe a falta depois do abate.

Estudos mostram que o corte preventivo não traz impacto à saúde dos rinos, mas, na selva, eles podem perder a habilidade de defender suas crias contra predadores, como hienas e leões.

A principal controvérsia, porém, é a venda dos chifres. Há uma proibição mundial ao comércio, imposta por uma convenção das Nações Unidas, mas no ano passado a África do Sul passou a autorizar venda legal de chifres no mercado interno, uma vitória dos criadores comerciais de rinocerontes.

Para Pelham Jones, presidente da Associação dos Proprietários de Rinocerontes, o comércio legal e controlado de chifres colocará fim à caça ilegal e ajudará a cobrir o custo das medidas protetivas.

"É uma irresponsabilidade vender chifres", afirmou via email Paula Kahumbu, diretora da organização WildlifeDirect. "Não só cria uma demanda e, portanto, uma ameaça todos os rinocerontes, mas é uma exploração cruel de pessoas ignorantes, vulneráveis, que pensam que o chifre irá curá-las de câncer."

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