É cientista político e professor da USP, onde se formou em ciências sociais e jornalismo. Foi porta-voz e secretário de Imprensa da Presidência no governo Lula.
Escreve aos sábados.
Política entra na fase do vale-tudo
Alan Marques - 21.fev.2017/Folhapress | ||
Rodrigo Maia (esq.), Michel Temer e Henrique Meirelles durante reunião sobre reforma da Previdência |
O julgamento da chapa Dilma Rousseff-Michel Temer, previsto para começar em 72 horas no TSE, tende a ocorrer numa espécie de vácuo. A indeterminação é tamanha que se torna difícil prever o resultado. Dizem que o poder tem horror ao vazio, o que faz sentido, mas há momentos em que, aniquilados os atores principais, produzem-se estranhas bolhas, carentes de direção.
Note-se que há três semanas as forças do campo dominante procuram uma saída para o impasse criado pela gravação presidencial do empresário Joesley Batista. A partir das acusações do procurador-mor, Rodrigo Janot, ficou evidente que Michel Temer está implicado em atos que o impedem de seguir à frente do Planalto. No entanto, os cacos do governismo não conseguem se unificar em torno de uma alternativa.
O ex-várias vezes ministro Nelson Jobim, por exemplo, parece causar resistência, uma vez que foi advogado de acusados na Lava Jato e é sócio do banco BTG, alvo de possível delação próxima de Antonio Palocci. Além disso, posicionou-se a favor de Lula contra a República de Curitiba. Inaceitável, portanto.
O titular da Fazenda, Henrique Meirelles, lembrado por ser o condutor do plano econômico em curso, tem bastante apoio de empresários. Mas tendo sido presidente do Conselho Administrativo, dotado de plenos poderes, da J&F, holding do grupo construído pelos irmãos Batista, como explicar que nada sabia do que lá se passava? Afinal, as falcatruas de uma empresa multada em R$ 11 bilhões devem ser evidentes para quem a dirige, não?
Tanto o caso de Jobim quanto o de Meirelles mostram que as investigações em curso, as quais há muito ultrapassaram a Petrobras, atingem praticamente toda a tessitura que envolve as camadas dirigentes do país.
Surge, então, o senador Tasso Jereissati, ele próprio grande empresário e atual presidente do PSDB, sem envolvimento conhecido com a Lava Jato. Mas o nome não agrada ao baixo clero da Câmara. Convém lembrar que se trata de grupo organizado pelo ex-deputado Eduardo Cunha, avesso, portanto, à emplumada elite tucana.
Para concluir, aparece, no meio parlamentar, a candidatura de Rodrigo Maia, atual comandante da Casa do Povo, que foi mencionado na delação da Odebrecht e cujo perfil presidencial aproxima-se de zero. É inaceitável para a opinião pública. Porém, diante do esfacelamento do sistema político, tudo se torna possível.
Na ausência de uma saída articulada politicamente, caso o TSE opte pela cassação, assistiremos a uma corrida de projetos malucos. O pior é que estamos apenas começando a ver o resultado prático da devastação produzida pelo Partido da Justiça (PJ). Na Itália, deu Berlusconi. E aqui?
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