Antonio Prata

Escritor e roteirista, autor de "Por quem as panelas batem"

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Antonio Prata

Projeto CP

O primeiro passo foi o Plano Real, que estabilizou a economia. O segundo foi o Bolsa Família, que tirou milhões de brasileiros da miséria. Falta, ainda, o terceiro passo, um passo ousado e criativo, para enfim transformarmos esta vergonha numa nação. Dou aqui a ideia, de graça, em nome do bem comum: Copa Permanente.

É isso mesmo. Dia 13 de julho, depois da final, o Mundial não acaba. Os jogadores e torcedores não voltam pra casa. As bandeiras não são tiradas das janelas. As pinturas no asfalto não são lavadas pela chuva. Os carros não perdem seus gorros de capô nem seus tapa orelhas de retrovisor. Começa tudo de novo. E de novo. E pra sempre.

O que a Austrália tem? Cangurus. O que a Suíça tem? Chocolates. O que o Brasil terá? Uma Copa Permanente. Todos os dias, todos os meses, todos os anos, "since 2014", quem vier pra cá poderá assistir a jogos incríveis como os da última semana, poderá cantar de peruca colorida no metrô, poderá se embebedar com Skol morna na rua Aspicuelta e xavecar uma holandesa que está ficando com um marfinense que está dividindo um apartamento com 11 portugueses que conhecem um uruguaio que jura que consegue três ingressos pro jogo da próxima terça. E os povos virão até nós como os muçulmanos vão a Meca, os cristãos a Roma, os japoneses ao caraoquê.

"Ah, fanfarrão!", grita o leitor Black Block, indignado, como se eu propusesse apenas circo para as massas. Permita-me discordar. Qual o grande impulso para o progresso, em nosso país? O clamor das ruas? (Não, esse é o impulso para a Tropa de Choque.) O grande impulso para o progresso, entre nós, é a vergonha dos gringos. Faz dez anos que nossos aeroportos estão um caos: quando foram reformados? Quando os gringos iriam chegar. Com a Copa Permanente teremos também gringos permanentes e precisaremos, enfim, criar boas escolas públicas, hospitais, ampliar o metrô -e transformar a Vila Madalena num calçadão balada 24 horas.

"Ei, Antonio, vai tomar no **!", grita o leitor Yellow Block. Não estamos prontos, ele diz, tirando fotos do lixo nas ruas e postando nas redes sociais: #imaginanacopapermanente. A promessa de um camarote VIP e de umas biritas de graça, contudo, deverá acalmar esses neoindignados, garantindo o apoio do empresariado e a maioria necessária para aprovar a Copa Permanente, no Congresso.

Vamos lá, pessoal. Façamos abaixo-assinados, manifestações, macumbas. Façamos do Brasil o país mais divertido da Terra e, de quebra, resolvamos os problemas que nos perseguem há mais de 500 anos. Sem contar que, aprovada a CP, se algo porventura der errado nos próximos jogos -toc, toc, toc-, soltaremos um simples suspiro e nos resignaremos: "Pena, agora só daqui a quatro semanas."

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