Ph.D em Business, doutorado em administração, mestrado e bacharelado em economia. É professor na Escola de Administração de Empresas de São Paulo da FGV.
O mais caro é realmente melhor?
Uma estratégia comum de quem não entende muito sobre vinhos e quer pedir uma boa bebida no restaurante é se guiar pelo preço das garrafas. Afinal, temos uma percepção enraizada de que quanto mais cara for, melhor será o vinho. Não é para pedir, necessariamente, a bebida mais cara, mas sim para se guiar para encontrar uma opção com boa relação entre custo e benefício.
A técnica é reveladora: ela nos mostra quanto as visões de custo e qualidade estão ligadas para nós. Diversos estudos mostram que, quando provamos um produto barato (digamos, um chocolate industrializado) e outro caro (um chocolate belga artesanal), a diferença no prazer que sentimos ao comer um e outro é maior quando sabemos os preços das duas barras de chocolate.
Quando não somos informados sobre o preço, no entanto, o resultado é diferente. Em um teste cego com enólogos, um pesquisador da Universidade de Oxford descobriu que os especialistas preferiram um champanhe que custava US$ 63, contra outras opções que chegavam a custar US$ 653.
Ou seja: saber (ou não) o preço pode impactar enormemente não só em nossa expectativa sobre um determinado produto, como também a experiência em si.
Imagine que você e seu cônjuge resolvem ir a um novo restaurante badalado - e caro - da sua cidade para celebrar o aniversário de casamento. É uma data especial e, para comemorar, vocês resolvem pedir a garrafa de champanhe mais cara. O sommelier olha para vocês com satisfação, traz a linda garrafa em um chique balde de prata e serve vocês com cuidado para uma degustação.
A expectativa toda gerada no processo (é uma noite especial, um restaurante bacana, uma garrafa cara) vai deixá-los predispostos a amar a bebida - afinal, é o melhor que vocês poderiam beber naquela noite. E vocês de fato acabam adorando o champanhe.
Só que o que estamos falando sobre a degustação de um espumante pode valer não só para alimentos e bebidas, como também para roupas, viagens, tratamentos estéticos e até remédios. Ou você nunca ouviu um grupo de pessoas conversando animadamente sobre o novo e melhor remédio contra colesterol?
Todo cuidado é pouco nesta hora. Em uma indústria como a de casamentos, querer tudo do mais caro pode acabar estourando muitos orçamentos. E tendemos a sentir que, quanto mais cara a festa, maior a vontade do casal de fazer com que o casamento "dê certo". Afinal, quem não quer o melhor para a sua vida a dois?
A saída é buscar dissociar preço e qualidade. Se não dá para fazer um teste cego com tudo na vida (embora possa ser uma ótima técnica para escolher um bem-casado para o casamento), tente refletir sobre a diferença de custo e quanto aquele valor cobrado a mais pode, de fato, impactar a sua experiência. É pedir um champanhe um pouco mais barato para comer a sobremesa sem culpa - ao menos com o seu bolso.
Post em parceria com **Carolina Ruhman Sandler*, jornalista, fundadora do site Finanças Femininas e coautora do livro "Finanças femininas - Como organizar suas contas, aprender a investir e realizar seus sonhos" (Saraiva)
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