É engenheiro civil e atua como empresário imobiliário há mais de 30 anos. É presidente do Conselho Consultivo do Secovi-SP. Escreve às segundas.
Acupuntura urbana biofílica ajuda a moldar espaços da cidade
Fabio Braga/Folhapress | ||
Jardim vertical em edifício ao lado do minhocão, em São Paulo |
As cidades crescem, tornam-se densas e as nossas experiências diárias com o espaço urbano têm vinculação cada vez maior com o asfalto e o concreto.
A necessidade de estreitarmos nossa relação com a natureza torna-se premente. Nesse contexto, a biofilia (palavra oriunda do grego, que significa amor pela vida) pode ser compreendida como a conexão biológica entre as pessoas e o meio ambiente.
É fácil perceber que tal conexão exerce grande influência sobre nós. O fogo nos fascina. A visão de uma paisagem deslumbrante causa a sensação de paz e aumenta a criatividade. As ondas do mar podem encantar ou amedrontar. A companhia de animais tem efeitos tranquilizadores e até terapêuticos.
A acupuntura urbana, teoria socioambiental que alia o planejamento urbano clássico aos conceitos da tradicional acupuntura chinesa, usa intervenções em pequena escala para transformar contextos urbanos mais amplos.
Portanto, a acupuntura urbana associada à biofilia objetiva promover ações em pontos específicos do tecido urbano, de tal forma a recuperar o bom humor das pessoas conectando-as à natureza, além de ajudar a melhorar a saúde física e mental da população.
Essas intervenções, mesmo em pequena escala, têm impacto positivo quase que imediato. Segundo pesquisadores da Universidade de Essex, na Inglaterra, as mudanças positivas na autoestima e no humor das pessoas expostas a esse tipo de intervenção acontecem nos primeiros cinco minutos.
As estratégias da acupuntura biofílica englobam as intervenções em locais de grande concentração de usuários, promovendo, assim, a exposição diária e não intencional dessas pessoas àquelas paisagens, que se incorporam aos hábitos cotidianos de deslocamento.
Dessa forma, a distribuição de ações estrategicamente localizadas em vários pontos, seja em regiões específicas ou em toda a cidade, provocarão resultados de amplo espectro.
Ações pontuais de grande resultado requerem intervenções com a presença de água, cuja fluidez, sonoridade e outros atributos sensoriais contribuem bastante para que determinado espaço transmita sensação de calma e tranquilidade.
O modelo pode demandar, também, intervenções de forma relativamente aleatória pela população.
O chamado ajardinamento de guerrilha é uma delas. Essas ações originaram-se em Nova York na década de 1970. Os residentes de determinadas localidades atiravam em terrenos vazios e abandonados pequenos balões com água, fertilizante e sementes, propiciando a criação de áreas ajardinadas em vários pontos abandonados da cidade. Em outros casos, reuniam-se para plantar flores e outros tipos de vegetação em locais predeterminados, ou mesmo fazer a manutenção desses espaços.
Bom seria se, ao invés dos odiáveis pichadores, tivéssemos em São Paulo pessoas que saíssem para plantar e manter jardins. A pichação interfere negativamente na cidade, e produz efeitos exatamente contrários àqueles conseguidos com a acupuntura biofílica.
As paredes verdes, cuja tecnologia de implantação e manutenção começa a ganhar corpo, são ferramentas importantes para intervenções pontuais.
A criatividade e as especificidades locais direcionam para outros tipos de intervenção, mas alguns princípios básicos devem ser seguidos. Entre eles, a conexão com a natureza, os estímulos sensoriais, as variações térmicas e nos fluxos de ar, além do uso de água e iluminação dinâmica.
As cidades estão em transformação e assim devem permanecer por muito tempo. A busca constante pelos melhores modelos de desenvolvimento é parte integrante do processo de melhoria contínua, que deve ser o objetivo daqueles que pensam os espaços urbanos e seu funcionamento. A acupuntura urbana biofílica é mais uma ferramenta para nos ajudar a moldar, de maneira inteligente, os espaços das cidades.
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