É repórter especial. Ganhou prêmios Maria Moors Cabot (EUA) e da Fundación por un Nuevo Periodismo Iberoamericano. Escreve às quintas e aos domingos.
É apenas agosto de 2017, mas 2018 já começou
Começou a campanha eleitoral de 2018. Disfarçadamente, mas começou.
Para citar apenas o meu microuniverso preferido (a Folha), tivemos pelo menos três "comícios", a saber:
1 - O afago de Michel Temer em João Doria, que foi também uma bofetada em Geraldo Alckmin. Ou seja, um movimento que envolveu os dois presumíveis candidatos aparentemente mais fortes do PSDB.
2 - A entrevista de Armínio Fraga em que ele agita um velho espantalho para conservadores e liberais, chamado Luiz Inácio Lula da Silva.
3 - A entrevista de Márcio França, o vice-governador de São Paulo, na qual ele defende a sua própria candidatura a governador e a de Alckmin a presidente, no discutível pressuposto de que o PSB, partido de França, se alinharia com o governador paulista.
Juca Varella/Folhapress | ||
O presidente Michel Temer com o prefeito João Doria em São Paulo nesta segunda-feira (7) |
"Comícios" à parte, a coluna da sempre excelente Mônica Bergamo relata os sonhos de Temer de ter Henrique Meirelles como candidato que defenda seu legado —aliás, o mesmo suposto legado que Armínio Fraga vê ameaçado por Lula.
O início antecipado da campanha de 2018 é a comprovação de que fracassou o "Fora, Temer", tanto em sua vertente pressão da rua como na jurídico-parlamentar.
Não dá mais tempo para afastá-lo mesmo que seja por apenas seis meses, para que o Supremo Tribunal Federal decida se o condena ou não, caso surja mais uma denúncia da Procuradoria-Geral da República e a Câmara dos Deputados aceite enviá-la ao STF.
Reafirmo que, para o meu gosto, Temer deveria ter renunciado assim que Dilma Rousseff foi afastada. Naquele momento, o substituto seria escolhido em eleição direta, a única maneira de restabelecer a legitimidade eleitoral. Não dá mais, paciência, vamos em frente.
É claro que é muito cedo para antecipar como será 2018 quando ele chegar de fato. Mas uma coisa parece clara: a impopularidade do governo é tamanha, inédita até, que parece impossível que haja um candidato viável para defender o tal legado de Temer.
À primeira vista, reproduz-se a situação de 1989, na sucessão de José Sarney, na qual ganhou o mais desbocado crítico do governo, Fernando Collor de Mello, seguido de perto por outros dois críticos duros (Luiz Inácio Lula da Silva e Leonel Brizola).
Desta vez, no entanto, não há um arrivista como Collor e há críticos do, digamos, legado ético de Temer que, no entanto, defendem sua agenda de reformas.
Como as reformas são também impopulares, resta verificar se haverá alguém que se disponha a defendê-las na campanha. Meu palpite: só há um, chamado Henrique Meirelles, cuja ambição presidencial é antiga.
Tão antiga que, quando era presidente do Banco Central com Lula (2003 a 2010), sempre que nos encontrávamos, eu o chamava de presidente. Ele, com um sorriso maroto, respondia: "do Banco Central, do Banco Central". E eu espetava: "Por enquanto, por enquanto".
Quanto a Lula, tenho sinceras dúvidas de que venha a ser, se eleito, o demolidor das reformas do governo Temer. O líder petista era encarado, já na eleição de 2002, como um ogro, tal como Armínio Fraga o pinta de novo, agora.
No entanto, escolheu para conduzir a economia, como presidente do Banco Central, o mesmo Henrique Meirelles que agora toca as reformas que Lula, supostamente, desmontará. Se alguém acha que Meirelles era de esquerda em 2003/10 e agora virou à direita, parabéns: vive em outro planeta.
Haverá tempo, adiante, para falar de outras presumíveis candidaturas. Por enquanto, é estranho que não tenha nem sequer se insinuado alguma novidade político-eleitoral, conhecida como é a rejeição ao mundo político no atacado.
Ou o Brasil é muito lerdo nas suas reações políticas ou 2018 ainda precisa de um anabolizante.
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