Jornalista esportivo desde 1971, escreve sobre temas olímpicos. Participou da cobertura de seis Olimpíadas e quatro Pan-Americanos. Escreve às terças.
Ano novo cheio de eventos e dúvidas para o esporte olímpico brasileiro
O ciclo olímpico que vai até Tóquio-2020 já consumiu quatro meses na ressaca da Rio-2016. Esta fase inicial praticamente serviu para relaxamento e recuperação física dos atletas em geral. Poucos esportes continuaram com atividades mais intensas no período.
Por isso o novo ano pode, de fato, ser considerado como o ponto de partida para os Jogos do Japão e também porque 2017 conta com uma série de competições internacionais importantes.
Para se ter uma ideia, na próxima semana começa o Mundial masculino de handebol, na França. O tênis foi o primeiro a abrir sua temporada e dia 16 tem a primeira competição forte: o Aberto da Austrália.
O pontapé de janeiro é aquecimento para o resto do ano, que vai contemplar vários grand prix, ligas e copas do mundo de diversas modalidades.
As cerejas nesse bolo são os Mundiais, entre eles os de atletismo, canoagem de velocidade, boxe, judô, ginástica (artística e rítmica), ciclismo (estrada, BMX), maratona aquática, vôlei de praia e handebol feminino.
Damien Meyer/AFP | ||
Isaquias e Erlon De Souza Silva, na Rio-2016 |
A grade de esportes olímpicos é robusta. Em cada país, as modalidades articulam seus planos de preparação em parceria com o comitê olímpico nacional local.
No Brasil não é diferente. Entretanto, nesse período pós-Olimpíada, ainda com gastos a saldar –desde dívidas com fornecedores contratados a reembolsos de ingressos a consumidores– do evento realizado em casa e
desconfortos com a crise econômica, os investimentos na área esportiva por aqui vão deixar a desejar, pelos menos temporariamente.
Carlos Arthur Nuzman, presidente do comitê organizador da Olimpíada-2016 e depois do evento eleito para a sexta gestão consecutiva no comando do COB (Comitê Olímpico do Brasil), descarta investimento semelhante ao do período pré-Jogos do Rio.
A partir deste mês, o COB vai se reunir com as confederações esportivas nacionais para apresentação dos critérios de distribuição de verbas, ajustes orçamentários e elaboração de projetos.
Antecipou em dezembro quanto cada confederação deverá receber, com base em uma estimativa geral de recursos para o ano, na casa dos R$ 210 milhões. É verba da Lei Agnelo-Piva, que destina ao esporte 1,7% das loterias federais. O COB e as confederações esportivas podem ampliar seus caixas buscando patrocínios na iniciativa privada e até aportes governamentais.
Ricardo Borges/Folhapress | ||
Carlos Arthur Nuzman em hotel na Barra da Tijuca, no Rio |
No Reino Unido, que também destina verbas de governo e de loteria para o esporte, a situação parece mais estável para o setor. Tanto que a UK Sport, a agência desportiva de alto desempenho do país, anunciou recentemente um investimento de 345 milhões de libras (cerca de R$ 1,3 bi) para o ciclo Rio-Tóquio.
Os desempenhos do Reino Unido e do Brasil no palco olímpico têm alguns pontos em comum, que estabelecem um bom parâmetro. Ambos terminaram com o mesmo número de medalhas em Atlanta-1996 (15).
Depois, o Reino Unido, em Londres-2012, e o Brasil, no Rio-2016, foram organizadores de um evento cada nos cinco Jogos realizados. Nesse período, no entanto, o Reino Unido avançou a passos largos, enquanto o Brasil caminhou lentamente no quadro de medalhas.
No Rio, a delegação nacional terminou com 19 medalhas (7 de ouro, 6 de prata e 6 de bronze), em 13.lugar na classificação geral, enquanto o Reino Unido ficou em segundo, com 67 (27 de ouro, 23 de prata e 17 de bronze).
Qual o motivo da grande diferença nesses desempenhos esportivos? Com certeza, um investimento maior, planejamento e aplicação mais bem acertada das verbas.
Haveria algum coelho especial nessa cartola? Parece que sim, mas uma coisa está clara: o Reino Unido é um bom exemplo a ser estudado minuciosamente pelo governo e pela comunidade esportiva nacional.
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