Jornalista esportivo desde 1971, escreve sobre temas olímpicos. Participou da cobertura de seis Olimpíadas e quatro Pan-Americanos. Escreve às terças.
COB volta atrás e dá chance à revindicação de atletas
Ricardo Borges/Folhapress | ||
Paulo Wanderley é o presidente do COB |
Ainda resta uma brisa na expectativa de que novos ventos venham arejar os esportes olímpicos no Brasil. Na verdade, a cartolagem deu um passo, embora não tão largo como se esperava, sinalizando com a possibilidade de avanços nas atividades e funcionamento do COB (Comitê Olímpico do Brasil).
Em contrapartida, dúvidas e desentendimentos surgidos no debate sobre a participação mais ampla de atletas nos destinos daquela organização, reivindicada há muito tempo, deixaram uma ferida exposta.
Suspeitas de golpe logo vieram à tona, instigando a hipótese de que velhas práticas eleitoreiras seguirão em frente, sem resistência. Diante desse quadro, adireção do comitê optou por uma nova assembleia geral extraordinária, em 6 de dezembro, em substituição a da semana passada, numa tentativa de aparar arestas.
Os atletas querem ampliar de um para 12 os seus pares com direito a voto nas decisões do comitê, mas acabaram vencidos na assembléia, ficando com cinco representantes.
Esse desfecho foi gerado com a impugnação do voto de uma confederação, a de rúgbi, que igualava o embate e levaria a decisão para o voto de minerva, mantido em segredo, do presidente do COB, Paulo Wanderley.
O representante do rúgbi tinha comunicado seu voto na assembléia, mas deixou o recinto, por motivos particulares, antes da conclusão do pleito. Daí a confusão. Como as leis do COB não abordam tal situação presencial, surgiu a oportunidade para a Comissão de Atletas pedir a revisão da decisão.
A assembléia, no entanto, teve outras questões relevantes na pauta, como mudanças no estatuto da entidade. Os critérios de elegibilidade para presidente e vice não exigem mais que eles sejam membros do COB, nem que as candidaturas tenham respaldo de dez subscrições nas assembleias, mas de apenas três.
Outra decisão interessante foi a de que o estatuto da entidade deve ser revisto a cada 24 meses, uma janela para aprimoramentos. Além disso, foram criados o Conselho Administrativo e o Conselho de Ética, que deverão ajudar nos controles da entidade.
Assim, independentemente do que for aprovado na nova assembléia, os atletas já têm um desafio, o de mostrarem o valor da categoria no debate sobre os esportes. Se ficarem apenas cinco atletas na representação, que trabalhem dobrado e com determinação, deixando claro a importância da participação e intervenção nas mudanças futuras.
Cartolas longevos –como os ex-atletas do naipe de Carlos Nuzman, de João Havelange e de José Maria Marin, entre outros–, deixaram suas marcas, em especial aquelas que não devem ser seguidas.
O desenlace das novas decisões do COB motivou até uma manifestação do Ministério do Esporte, um pouco fora do tom, anunciando que estava atento aos últimos acontecimentos e pedindo mais atenção nas questões sobre os atletas.
Até que ponto o ME tem capacitação e autonomia para interferir numa confusão desse tipo? Talvez seja o caso também de se colocar em discussão quem deve, e como, ser escolhido para integrar o próprio ME.
O momento oferece a chance para a modernização e para a implantação da transparência no rumo dos esportes olímpicos no Brasil. A oportunidade está lançada para se colocar o setor nos trilhos.
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