É bacharel em filosofia, publicou 'Pensando Bem...' (Editora Contexto) em 2016.
Escreve às terças, quartas, sextas, sábados e domingos.
Um pouco de eurocentrismo
SÃO PAULO - Não tenho nada contra os alunos estudarem mais de história da África e dos povos ameríndios, assuntos que costumavam mesmo ser negligenciados nos bancos escolares, mas me parece bem desequilibrada, para não dizer destrambelhada, a proposta do MEC para a disciplina de história constante da Base Nacional Comum Curricular (BNC), que está numa espécie de consulta pública.
Como mostrou reportagem de Sabine Righetti que saiu na última segunda-feira, tópicos que tradicionalmente constituíam o fulcro de nossos currículos, como História Antiga (Grécia e Roma), Idade Média, Renascimento, Revolução Industrial, nem sequer são mencionados na BNC para o ensino médio, dando lugar a temas como cosmogonia maia, inca, tupi e jê, descolonização, imperialismo, revoluções mexicana, boliviana e cubana. A proposta para o ensino fundamental segue mais ou menos na mesma linha.
Confesso ter uma quedinha por abordagens iconoclásticas, mas os especialistas convidados pelo MEC exageraram. Existem várias razões que tornam relevante o estudo da história. Elas vão de objetivos pedagógicos relativamente abstratos, como desenvolver o pensamento crítico, a motivos bastante práticos, como conhecer a origem das principais referências de nossa cultura.
Na parte mais pragmática, fica difícil sustentar que a revolução boliviana de 1952 deve ter precedência sobre o Renascimento, por exemplo. Este movimento intelectual que teve início no século 15 está na base do que mais tarde viria a ser a revolução científica, que é significativamente mais relevante para a nossa sociedade do que a revolta que colocou Victor Paz Estenssoro no poder.
Nada impede que os alunos visitem também essa história um pouco esquecida, mas isso não pode se dar em detrimento do estudo das etapas definidoras da civilização ocidental, à qual, afinal, pertencemos.
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