É bacharel em filosofia, publicou 'Pensando Bem...' (Editora Contexto) em 2016.
Escreve às terças, quartas, sextas, sábados e domingos.
Violência e droga no Rio
Domingos Peixoto/Agência o Globo | ||
Exército faz operação na Rocinha |
SÃO PAULO - Como sempre ocorre quando a violência repica, surgem vozes defendendo a legalização das drogas. Sou inteiramente favorável a essa medida e até acredito que ela, a longo prazo, contribuiria para reduzir o poder do tráfico e, por extensão, a barbárie por ele patrocinada. Mas precisamos de cuidado para não comprar gato por lebre.
A lamentável onda de violência que o Rio de Janeiro atravessa tem causas proximais e distais. A mais imediata delas é sem dúvida o virtual colapso financeiro do Estado, que teve impactos devastadores sobre o policiamento e outros serviços essenciais. Basta lembrar que, até a pane fiscal, o Rio era o Estado que, depois de São Paulo, vinha colhendo os melhores resultados na redução de homicídios. Sem restaurar, ainda que parcialmente, a capacidade do governo fluminense de pagar a folha salarial dos policiais e fazer investimentos na instituição, a situação não vai melhorar. Gostemos ou não, polícia é fundamental.
É só no plano das causas mais remotas que a questão das drogas aparece, até com um certo destaque. Uma porção não desprezível da violência urbana —e também da corrupção— é gerada por organizações criminosas que têm no tráfico sua principal fonte de lucros. Se as drogas fossem todas legalizadas, esses cartéis se enfraqueceriam.
O problema é que transições desse tipo não são instantâneas. É difícil imaginar o líder do PCC trocando a arma por uma gravata e negociando bushels de maconha na Bolsa de Chicago. O mais provável é que os cartéis tentem compensar as perdas decorrentes de uma legalização praticando outros crimes, provavelmente mais violentos do que a venda direta de drogas ao consumidor. É só num prazo mais dilatado que o efeito positivo se materializaria.
Minha defesa da legalização é muito mais por razões filosóficas do que por aspectos utilitários que não temos certeza de que ocorrerão.
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