Uma nova era na política externa americana será inaugurada a partir desta sexta (20). O agora presidente da maior potência mundial, Donald Trump, possui um estilo peculiar. O contraste com Barack Obama é notável não apenas na forma mas, sobretudo, no conteúdo.
Trump, operando em ritmo de campanha, não matizou ainda o alcance e impacto de suas falas sobre aliados políticos, mercado financeiro e adversários estratégicos.
Ao longo de oito anos, a política externa do governo Obama, magnetizada por sua bem embalada retórica, navegou entre acertos pontuais e graves inconsistências.
As linhas gerais da diplomacia obamista foram traçadas com base em três premissas: 1) restaurar a reputação de Washington no sistema multilateral, danificada após o governo George W. Bush, marcado por ações unilateralistas no cenário mundial; 2) aproximar-se da China, costurando uma relação equilibrada e benéfica para ambos no comércio internacional; 3) reduzir o peso dos compromissos americanos na arquitetura da segurança global e, ao mesmo tempo, diminuir o grau de ameaças à segurança nacional.
Por outro lado, a diplomacia do Twitter adotada pelo novo residente da Casa Branca indica que a ordem internacional pode ser posta do avesso. Os movimentos de Trump em matéria de politica externa, até o momento, têm sido bruscos.
A questão é até que ponto o comandante-em-chefe conseguirá manter o ritmo de forma incólume.
De fato, Trump terá dificuldades em modular um discurso externo à margem da influência do Congresso, do Pentágono e do Departamento de Estado. Não será fácil empregar sua retórica à revelia dessas instituições. O risco é elevadíssimo para a estabilidade de sua gestão e do mundo. A América Latina está na expectativa do pior; os europeus, atônitos, e os africanos, aparentemente, nem sequer compõem o mundo de Trump.
Da mesma forma, uma política insular de Washington é tudo o que a China quer para delinear os contornos da nova geografia comercial do mundo. A China ainda não empregou, em conformidade com seu peso e potencial, os recursos de seu verdadeiro poder.
Obama errou em sua estratégia externa, e isso permitiu que a Rússia ocupasse um tremendo vácuo de poder no sistema internacional. Se Trump optar por uma escalada descomedida com a China, talvez crie novo vácuo que pode vir a ser ocupado por Pequim.
A estratégia de Trump repete Nixon, porém, ao contrário. Nixon aproximou-se dos chineses, nos anos 1970, explorando as animosidades entre Moscou e Pequim, no intuito de dissolver o poder da URSS.
Ao menos retoricamente, Trump está antagonizando com a China, aproximando-se de Moscou no intento de petrificar o poderio chinês.
Contudo, China e Rússia parecem já ter selado aliança estratégica para minar o poder americano. Moscou se incumbe de ocupar o vácuo político, e Pequim a lacuna econômico-comercial.
Como a aliança euro-americana parece não ter força no ideário de Trump, essa nova ordem pode ser facilitada. Trump ainda parece não ter acordado para isso.
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