Colunista e membro do Conselho Editorial da Folha, é um dos mais importantes jornalistas brasileiros. Analisa as questões políticas e econômicas. Escreve aos domingos e quintas-feiras.
Terrinha coerente
As decapitações no presídio maranhense provocaram a raridade que é uma providência rápida da ONU a um fato. Só isso já dá uma ideia inquietante dos efeitos que o Brasil terá de encarar, difíceis e variados. Mas não necessariamente injustos.
Na ONU e fora dela, muitos vão se lembrar de que as fotos tétricas saíram do país que, passados 28 anos de sua redemocratização, é o único da era das ditaduras sul-americanas até hoje incapaz de aplicar suas leis aos assassinos e torturadores de então.
É o país em que os artigos do seu Código Penal são sensíveis a cores, entre o branco e negro, e à situação do réu no PIB. É o país em que muitos Estados, no arco que parte do Nordeste e dá a volta pelo alto até descer no oeste ainda amazônico, os madeireiros, os grileiros, os traficantes de fauna e flora e as polícias militares desfrutam do privilégio de assassinar sem riscos: se o processo for inevitável, durará o bastante para igualar-se a uma vida em liberdade.
É o país que, apesar de ser tal qual é, ambiciona integrar o Conselho de Segurança da ONU. Logo o de Segurança.
EM DÍVIDA
A governadora Roseana Sarney remendou a atitude em que acusara a comissão organizada pelo Conselho Nacional de Justiça, para inspecionar o presídio de Pedrinhas, de exagerar nas conclusões com o propósito político de agravar o problema no Maranhão. Acusação, para dizer o mínimo, patética.
A reconsideração não quita o débito da governadora. Nem é mais à opinião pública brasileira, é também à internacional, que Roseana Sarney deve a explicação de como os crimes mais horrendos ocorreram em Pedrinhas, pelo menos desde 2011, sem que o seu governo impedisse a continuação macabra, até agora. No ano passado já eram 14 decapitações conhecidas pelo governo, ou parte dele, até por haver retirado e dado destinação aos corpos mutilados.
A governadora não precisa explicar, porém, o seu secretário de Justiça e Administração Judiciária, Sebastião Uchoa. Depois do primarismo com que ele criticou a transferência de presos ferozes para presídio federal, só não se entende, e é melhor não entender, por que não foi exonerado.
SEM DÚVIDA
Eduardo Campos e Marina Silva, dizem, estão pasmados com a criatividade do noticiário a respeito da sua (in)convivência. Em grande parte, é assim mesmo, e não só com eles. Mas no seu caso é muito mais fácil.
Porque os dois e os seus pretorianos do PSB e da Rede vivem clima tão bom, que não conseguem combinar nem o que dizer e o que silenciar. Mas que Marina está com pleno domínio da situação, está mesmo. Incerto é se Marina Silva percebe o quanto pode ganhar ou perder, no uso do seu domínio.
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