Tem mais de 40 anos de profissão. É formado em ciências sociais pela USP. Escreve às segundas, quintas e domingos.
Jogos sem festa?
"A XOTA olímpica chegou! A xota olímpica chegou", gritava esbaforido o produtor Sérgio Barros, da Globo, encarregado de avisar a Redação, no centro de imprensa de Barcelona, sobre a chegada da tocha à cidade.
"Não confunda, não confunda. É tocha, tocha, TOCHA olímpica, Sérgio", divertia-se o comandante da operação, o inesquecível Hedyl Valle Jr.
A festa na Catalunha era esportiva, sem outras conotações, embora nada as proibisse.
Isso porque a Olimpíada de 1992 foi iniciativa da cidade, da municipalidade e do povo catalão, não do COE, o Comitê Olímpico Español, como contou ontem, em evento da USP e do Sesc, o jornalista Marcelo Barreto, que esteve recentemente em Barcelona, assim como em Atenas, para fazer reportagem sobre os famosos legados das Olimpíadas.
Em Barcelona são tantos que a cidade é candidata aos Jogos de Inverno de 2020. Em Atenas, ao contrário, a prefeitura não sabe como fazer para manter os elefantes brancos que restaram como herança maldita.
Ao ouvir a pergunta sobre qual é a expectativa em torno dos megaeventos no Brasil, tanto Barreto quanto o vizinho Xico Sá e o companheiro Vladir Lemos, da TV Cultura, foram unânimes em projetar que haverá alegria nos estádios e protestos nas ruas, o que põe em risco as Fifa Fan Fests e até a viagem da tocha olímpica pelo país, provável isca de rastilho de pólvora a ser aceso pelo fogo olímpico.
De fato, disse alguém com espírito nada esportivo, haverá sempre quem mande pegar a tocha e queimar o rabo dos promotores do evento.
Pode parecer pessimismo, e tomara que seja, mas a manifestação em Cuiabá, dentro do estádio vistoriado pela Fifa nesta semana, revela que está mais para realismo.
Em resumo, tudo indica que as preocupações com a segurança de nossos megaeventos devem se voltar muito mais para o público interno que para as ameaças de terrorismo externo.
Cada vez mais as duas indiscutíveis vitórias brasileiras ao trazer a Copa do Mundo e a Olimpíada correm o risco de se transformar em tiros pela culatra.
TRISTEZA
Tostão disse que era o livro que ele queria ter escrito. Luís Fernando Veríssimo se desfez em elogios. E eu, com tristeza, estou terminando de ler o romance "O Drible", de Sérgio Rodrigues, lançado pela Companhia das Letras.
Tristeza e lentidão, apesar da ansiedade em chegar ao desfecho, porque o livro tem apenas 218 páginas e é daqueles que deveriam ter 800.
Você sabe por que, por exemplo, Pelé não fez o gol depois do célebre drible no goleiro uruguaio Mazurkiewicz? Porque, segundo o livro, "Pelé desafiou Deus e perdeu. Imagine se não perdesse. Se não perdesse, nunca mais a humanidade dormia tranquila". "O Drible" de Rodrigues também é único, digno do gol que Pelé não fez na Copa de 1970.
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