Tem mais de 40 anos de profissão. É formado em ciências sociais pela USP. Escreve às segundas, quintas e domingos.
Que graça tem?
O CRUZEIRO segue firme, colhendo o que plantou na temporada. Mesmo desgastado e obrigado a poupar Everton Ribeiro, seu melhor jogador, o trem azul segue célere para a estação vitória, como mostrou na Vila Belmiro, sua última parada.
No vagão restaurante, cozinhou o Peixe no primeiro tempo e o liquidou no segundo em linda jogada culminada por Ricardo Goulart.
A vantagem mineira é vista por muita gente como prova de pouca emoção da fórmula de pontos corridos, uma discussão que ainda perdura no Brasil e só no Brasil quando se trata do primeiro mundo do futebol.
O exemplo da sensacional edição da Copa do Brasil nesta temporada estimula ainda mais a insatisfação daqueles que ainda não entenderam que a questão não se resume à justiça, à meritocracia e ao planejamento, mas, também, à necessidade de os principais clubes do país terem a garantia de que jogarão durante toda a temporada.
Não é muito diferente a questão que envolve a possibilidade de usar a tecnologia para dirimir lances duvidosos, como já se faz em tantos esportes.
Há quem ache tão sem graça como o campeonato de pontos corridos, porque se, ao ver desses, futebol não tem nada a ver com justiça, a polêmica é que alimenta o futebol.
Sublinhe-se que tem muita gente boa contra uma coisa e a favor da outra e vice-versa. Ou contra ambas.
Tem até um gênio da raça, como Luis Fernando Veríssimo, que é contra o rebaixamento.
Ele defende que clubes de grandes torcidas não podem cair, a exemplo do que se faz nos Estados Unidos, mesmo raciocínio dos que consideram melhores as fórmulas dos campeonatos ianques.
Parece escandaloso, não? Pois é, e ninguém é menos escandaloso que Veríssimo.
A suposta falta de graça do Brasileirão em pontos corridos prestes a ser vencido pela segunda vez seguida pelo Cruzeiro, como dito, é reforçada ainda mais porque o time celeste está na final da Copa do Brasil e sob alto risco de perdê-la para o Galo.
Daí a pergunta à rara leitora e ao raro leitor: faria algum sentido ver amanhã, caso o Brasileirão tivesse terminado ontem numa fase classificatória, ver o Cruzeiro, líder com 70 pontos, enfrentar o Flamengo, o oitavo colocado, com 47? Seria emocionante? É claro que sim! Lotaria o Maracanã no primeiro jogo? Sem dúvida! O Flamengo poderia vencer por 1 a 0, com gol irregular e segurar o empate no Mineirão também repleto? Ora, se poderia! Assim, com duas dezenas de pontos a menos, seguiria no campeonato e eliminaria o melhor time do ano.
Agora, compare, com honestidade: é a mesma coisa que se vê na Copa do Brasil? Ou na Libertadores? Ou na Liga dos Campeões da Europa?
Não culpe o Cruzeiro por ser mais competente.
Uma seleção pode ganhar uma Copa do Mundo sem ser a melhor seleção do mundo. Um time pode ganhar quaisquer torneios com mata-mata sem ser o melhor e nem por isso tais competições são ruins.
Mas o campeão nacional tem de ser o melhor do país.
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