Tem mais de 40 anos de profissão. É formado em ciências sociais pela USP. Escreve às segundas, quintas e domingos.
537!!!
O Datafolha informa em sua última pesquisa sobre tamanho de torcidas que a do Fluminense é a décima colocada, junto com a do Botafogo e a do Galo, todos com cerca de 4 milhões de torcedores.
O Fluminense, como se sabe, abrigou em suas fileiras, e para ficar em apenas dois gênios do futebol mundial, Didi, o Príncipe Etíope, e Rivellino, a Patada Atômica –o primeiro bicampeão mundial em 1958/62, o segundo da seleção do tri, em 1970.
O Fluminense ganhou 31 vezes o Carioca, é tetracampeão brasileiro para quem considera, e a coluna considera, o Robertão como tal, além de ter vencido uma Copa do Brasil e dois Torneios Rio-São Paulo.
Era o time de Nelson Rodrigues como é o de Chico Buarque de Holanda.
Em resumo: o Fluminense é um dos gigantes do futebol brasileiro e na quarta passada levou seu time para jogar contra o Bonsucesso, em Volta Redonda, pelo Campeonato Fluminense de 2016, aqui chamado de Carioca pelo uso do cachimbo.
O Flu, ou o Tricolor que Nelson Rodrigues se recusava a chamar de Tricolor carioca porque dizia só existir um, levou o que tinha de melhor para o embate, do goleiro Diego Cavalieri ao centroavante Fred.
O Fluminense, também como se sabe mora nas Laranjeiras, mas teve de ir a Volta Redonda porque tanto o Maracanã quanto o Engenhão estão sendo preparados para os Jogos Olímpicos de 2016.
Pois pasme você, o Fluminense atraiu apenas 537 torcedores dispostos a pagar para vê-lo. 537!!!
Terá sido porque o preço do ingresso era abusivo neste Brasil em tempos de crise?
Não, nada a ver. O jogo rendeu pouco mais de R$ 7.000 e o preço médio da entrada ficou na casa de modestos R$ 13.
Agora me diga: você acha que alguém se espantou com isso, que alguém se indignou com isso, que alguém clamou aos céus o tamanho do absurdo, que pediu socorro?
Quase ninguém!
Virou coisa normal, fato consumado, um muxoxo aqui de lamentação, outro ali, mas indignação, nem pensar.
Para ser 100% verdadeiro teve um blogueiro do UOL, do grupo que edita esta Folha, que chiou, mas trata-se de um chato que reclama de tudo e que não será aqui levado em consideração nem como a exceção que confirma a regra.
E Fernando Calazans, no "Globo", outro ranzinza como o tal blogueiro.
Este é o futebol profissional brasileiro, o dirigido pelos coronel Nunes e pelo Rubinho, um na CBF, outro na Ferj.
Este é, sem tirar nem botar, o futebol do 7 a 1, dos 537 torcedores que renderam menos de 1% do que ganha, por exemplo, o artilheiro Fred, que fez dois gols na noite e igualou-se a Telê Santana como quarto maior goleador do Tricolor, com 164 gols.
O Fluminense, ainda como se sabe, está rompido com a Ferj, a Federação Estadual do Rio, e é um dos fundadores da Primeira Liga.
O que mais precisa acontecer para que o atual modelo nacional de futebol tenha sua falência decretada pelos clubes?
O que mais os clubes suportarão?
Público de 537 torcedores é um acinte, é uma ofensa, é um tapa na cara de quem tenha um mínimo de vergonha nela. Há quem tenha, mas são poucos. No Rio, apenas dois presidentes de clubes.
Em tempo: o Flu ganhou de 4 a 0. Ganhou?
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