Tem mais de 40 anos de profissão. É formado em ciências sociais pela USP. Escreve às segundas, quintas e domingos.
Certos acontecimentos transcendem a objetividade
Sergio Perez/Reuters | ||
Neymar comemora gol marcado na vitória do Barcelona sobre o PSG por 6 a 1 |
Idiotas da objetividade, para seguir na trilha de Nelson Rodrigues, seria o rótulo de quem imputou à arbitragem o milagre de Camp Nou, ou o dia em que Neymar pôs Lionel Messi em patamar subalterno.
Que o juiz alemão errou o repeteco mostrou à exaustão, mas o videotape é burro, como ensinou o mestre.
O zagueiro escorregou e Neymar tropeçou nele; Marquinhos não tocou em Suárez o suficiente para derrubá-lo; Mascherano derrubou Di Maria; Mascherano meteu o braço na bola na área no primeiro tempo.
Pronto: Barcelona 4, PSG 3.
Os catalães estão fora da Liga dos Campeões e os franceses eliminaram os rivais a quem jamais haviam vencido em mata-matas.
Mas não.
Houve também um pênalti em Neymar quando o jogo estava 1 a 0 e, só para ilustrar a burrice do videotape, Zico, ao comentar para o Esporte Interativo, achou que ambos os pênaltis assinalados para o Barça aconteceram.
Ou seja, há controvérsias e a opinião de Zico, que conhece porque esteve lá, tem peso, muito peso.
Pois veja a rara leitora e o raro leitor, cá estamos perdendo tempo e espaço ao falar do juiz qual um idiota da objetividade.
Falemos, então, do Sobrenatural de Almeida.
Sim, ele estava lá, disfarçado, no Camp Nou atômico.
Aquela energia que pairou sobre a Catalunha não pode ser reduzida a eventuais erros do apito porque também ela impediu que Cavani fizesse o segundo gol e liquidasse com os anfitriões.
Uma energia que não contaminou o gênio de Messi a ponto de ele abrir mão de bater uma falta e um pênalti que normalmente seriam de sua responsabilidade porque, cético, ou realista, já dera os anéis e os dedos por perdidos.
Neymar não!
O brasileiro não desiste nunca, mentira que gostamos de contar para nós mesmos, mas que, na noite do miracle (em catalão), era verdade.
Neymar havia visto Suárez abrir o placar nem bem a epopeia começara.
Viu o calcanhar genial de Andrés Iniesta provocar o segundo gol, contra, ainda no primeiro tempo e fez as contas das peladas em Santos: dois vira, quatro acaba, o bastante para a prorrogação.
Tropeçou no escorregão de Meunier, o alemão não deu, prova de que má intenção não havia, mas o auxiliar dele, atrás do gol, acusou. Messi fez 3 a 0 e Neymar vibrou, acreditou, aliás, como todos nós.
Então veio o balde de água congelada dos Pireneus, na fronteira da Espanha com a França. Gol de Cavani.
Neymar, ao contrário do resto da humanidade, não achou que o fim do mundo tinha, enfim, chegado.
Fez o quarto gol aos 43 ao bater falta como se fosse arremesso de três pontos. E era. E ele pareceu saber.
Porque fez o quinto três minutos depois, de pênalti, como se fosse um lance livre.
Faltava o sexto gol. Faltavam ainda mais quatro minutos. Uma eternidade num jogo de bola ao cesto.
No 50º minuto antes do nada, falta quase no meio de campo, na zona morta e no goleiro(!)Ter Stegen.
Neymar bate e a bola volta. Ele avança. Em vez de devolver à área ou chutar da intermediária, dribla um rival, levanta a cabeça e põe a bola no pé de Sergi Roberto: 6 a 1.
Cesse tudo o que a musa antiga canta que outro valor mais alto se alevanta!
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