Tem mais de 40 anos de profissão. É formado em ciências sociais pela USP. Escreve às segundas, quintas e domingos.
Os times brasileiros não se cansam de protagonizar fiascos na Libertadores
Douglas Magno/AFP | ||
Lance do jogo entre Atlético-MG e Jorge Wilstermann |
MATA-MATA é assim, com frequência elimina o melhor time numa jornada infeliz.
Daí haver quem ache ser mais difícil ganhar a Libertadores que o Campeonato Brasileiro.
Já o pessoal do Jorge Wilstermann e do Barcelona deve estar achando ser mais fácil disputar o torneio continental que os campeonatos boliviano e equatoriano.
Porque eliminaram Galo e Palmeiras não por causa de uma noite de azar, pois os bolivianos venceram lá e empataram cá e os equatorianos ganharam na ida e só perderam na volta devido à trave, uma vez, e ao assoprador de apito, outra.
Miguel Schincariol/Folhapress | ||
Banguera, do Barcelona de Guayaquil, defende pênalti cobrado por Egídio que eliminou Palmeiras |
Não há desculpas nem para os mineiros nem para os paulistas.
Há, sim, razões técnicas e táticas para explicar os vexames de dois clubes que investiram mundos e fundos, a exemplo de outro eliminado precocemente, o Flamengo, para serem bicampeões da Libertadores e deram com os burros n'água.
Basta constatar o seguinte: o Galo empatou com um time boliviano ao fazer 43 cruzamentos, só seis certos, e o Palmeiras cruzou 25 contra os equatorianos, só três vezes bem.
Desnecessário lembrar que o solitário e insuficiente gol alviverde nasceu de uma jogada com a bola no chão graças ao talento deste brilhante Moisés.
O futebol prega peças, ninguém haverá de negar.
O Palmeiras mesmo foi vítima delas porque se viu, de repente, sem Mina e Dudu, lesionados durante o jogo contra o Barcelona, com Guerra ainda a meio vapor, sem Mayke, machucado, sem Borja, reprovado, e sem Felipe Melo, dispensado.
A maior parte do investimento inutilizada, fruto de mau planejamento.
No entanto, o milionário time da madame Leila não tem laterais e improvisou Tchê Tchê, para levar um baile de Caicedo.
Não, não houve azares nas eliminações em Belo Horizonte e São Paulo.
Nem azares, nem Cazares, nem calças vinho.
Tudo aconteceu como um Tolima, um Mazembe, um Raja Casablanca, enredos que já conhecemos e que desprezamos com nossa empáfia pentacampeã.
Nada mais distante do futebol da seleção brasileira que o praticado por nossos clubes, com honrosas exceções circunstanciais.
Não será por outro motivo que dos 23 convocados por Tite para os dois próximos jogos das eliminatórias, contra Equador e Colômbia, só quatro -os corintianos Cássio e Fagner, o gremista Luan e o são-paulino Rodrigo Caio-, atuam no Brasil.
Nosso futebol é burro, está defasado, não frequenta escola há muito tempo e vai apanhar sempre que apostar na tradição de seu passado campeão, no folclore da superstição e na imponência de suas arenas superfaturadas.
Um pequeno time de Cochabamba, para alegria dos cochabambinos, calou meia Minas Gerais, e o Barcelona, que não é o da Catalunha, humilhou a gente alviverde, para felicidade de alvinegros e tricolores paulistas.
E já houve noites piores que a da última quarta-feira (9).
Aconteceu em 4 de maio de 2011 quando Cruzeiro, Grêmio, Fluminense e Internacional também foram eliminados nas oitavas de final da Libertadores por colombianos, chilenos, paraguaios e uruguaios.
Sim, o futebol brasileiro virou apenas mais um, banalizado como o Hino Nacional desrespeitado nos estádios do país.
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