É editora de 'Mundo' e foi correspondente em Nova York, Genebra e Washington. Escreve às sextas sobre séries de TV.
Drama 'Billions' aposta em guerra de egos
Em meio a tantas séries sobre política, um drama que trata do jogo de poder no mercado financeiro sobressai: é "Billions", produção do canal americano Showtime cuja segunda temporada estreia no Brasil no próximo dia 20 na Netflix, um dia depois de estrear nos EUA.
Os movimentos de megainvestidores, os altos e baixos da Bolsa e a regulação dessas operações são um pano de fundo eficiente para aquilo que move a série: o antagonismo voraz de dois homens cuja genialidade em suas respectivas áreas só se equipara ao tamanho de seus egos, capazes de esmagar quaisquer limitações legais ou éticas a suas ações.
O promotor federal Chuck Rhoades (Paul Giamatti, de "Sideways" e "John Adams") e o dono de fundo de investimento Bobby "Axe" Axelrod (Damian Lewis, o Brody de "Homeland") repelem-se como pólos iguais de ímãs de magnetismo extraordinário.
Jojo Whilden/Divulgação | ||
Os atores Damian Lewis (à esq.) e Paul Giamatti em cena da série "Billions" |
Em torno do primeiro, gravitam juízes, promotores e funcionários de agências regulatórias responsáveis por manter o funcionamento do mercado o tão transparente quanto possível. Em alguns casos, estão imbuídos de senso de justiça; em outros, sedentos de crédito e reconhecimento.
Em torno do segundo, orbita muito dinheiro e um dos principais fundos de investimentos de alto risco do país, moldado para ampliar ganhos em eventuais crises (e não raramente o precipitador de quebradeiras). O objetivo é ganhar dinheiro ao máximo, aproveitando-se de eventuais brechas legais. Reconhecimento, aqui, também é um motor central.
No meio deste cabo de guerra, ora assistindo ora puxando um dos lados, está a mulher de Rhodes, a terapeuta Wendy (Maggie Siff, que interpretou a herdeira Rachel em "Mad Men"), que dá expediente na firma de Axe e é também a responsável por motivar a equipe -inclusive o CEO, com quem desenvolve uma amizade franca.
É necessário um tanto de disposição para entender os diálogos recheados de termos legais e financeiros. Nada, porém, diferente do que se exige de atenção ao sistema político americano para assistir a "House of Cards" (a comparação não é fortuita): ajuda; no centro, contudo, fica o embate de egos em jogo de gato-e-rato que rende boas obras de ficção desde sempre.
"Billions" é do ano passado e, embora fictícia, incorpora muitos dos elementos que levaram ao colapso financeiro de 2008/9.
Entre seus criadores está o jornalista Andrew Ross Sorkin, dono de uma excelente coluna no "New York Times" e de um programa de TV na CNBC sobre o mercado financeiro e autor de um dos livros mais importantes sobre a crise mais recente, "Too Big Too Fail" (transformado no filme "Grande Demais para Quebrar", porém sem edição no Brasil).
Mas sua atualidade, a trama que volta constantemente ao conflito de interesses e ao culto ao ego sobretudo no mercado financeiro (e não só nele), parece perene no noticiário, povoado de Eikes e Donalds.
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A segunda temporada de "Billions" estreia na Netflix em 20 de fevereiro, com episódios semanais
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