Repórter especial da Folha, foi correspondente nos EUA e escreve sobre política e economia internacional. Escreve às sextas-feiras.
Acuado na Síria e no Iraque, Estado Islâmico pode se fortalecer na Líbia
Associated Press | ||
Simpatizantes do Estado Islâmico marcham em Mossul, no Iraque, em 2014 |
Em 22 de maio de 2016, Abu Mohammed al-Adnani, porta-voz do Estado Islâmico, divulgou um discurso de 31 minutos em que conclamava jihadistas a atacarem "infiéis" nos Estados Unidos e na Europa.
"Preparem-se para promover um mês de calamidade para os infiéis, especialmente na Europa e na América", dizia al-Adnani na mensagem divulgada em redes sociais ligadas à facção terrorista. "Mesmo a ação mais modesta que vocês fizerem na pátria dos cruzados será mais duradoura do que qualquer uma que vocês fariam se estivessem aqui conosco. Se vocês querem chegar até o Estado Islâmico, nós, em contrapartida, gostaríamos de estar no lugar de vocês, onde é possível punir os cruzados dia e noite."
Al-Adnani foi morto em um ataque aéreo dos Estados Unidos em agosto do ano passado, perto de Aleppo, na Síria.
Mas sua mensagem ressoa cada vez mais.
A facção terrorista está na defensiva no Iraque, onde enfrenta forças americanas e iraquianas em Mossul, e na Síria, onde avança a ofensiva de forças curdas e árabes em Raqqa. Mas, como mostra o ataque recente no show de Ariana Grande em Manchester, o grupo ainda é uma ameaça e pode estar se refazendo na Líbia, após uma série de reveses.
Estive em Sirte, na Líbia, em julho do ano passado. Naquela época, as milícias de Misrata, que acompanhávamos, estavam em franca vantagem e acabaram recapturando a cidade antes controlada pelos extremistas.
A Líbia, no entanto, continua a ser um país com três (ou quatro governos), o que, essencialmente, significa não ter nenhum governo.
Após a derrubada do ditador Muammar Gadafi em 2011, a Líbia viveu um breve período de paz e depois mergulhou no caos. Nenhum governo tem poder total sobre o país, administrações e milícias locais (islamistas moderadas, extremistas e seculares) controlam as cidades.
E é nos Estados falidos que prosperam facções como o Estado Islâmico.
Derrotados em Sirte, eles migraram para o interior e mantêm células secretas nas cidades mais populosas, entre elas a capital, Tripoli.
As autoridades britânicas investigam possíveis ligações entre o autor do atentado de Manchester, que deixou 22 mortos, e militantes do Estado Islâmico na Líbia. Salman Abedi, autor do ataque, tinha família na Líbia e esteve diversas vezes no país nos últimos meses. Após o atentado, seu pai e seu irmão foram presos na Líbia. O irmão é acusado de ser integrante do Estado Islâmico no país.
Analistas acreditam que as forças da coalizão, aliadas a milícias árabes e curdas, irão reconquistar Mossul e Raqqa, as duas capitais do Estado Islâmico, até o final do ano. Com isso, o califado que já teve o tamanho da Itália estaria oficialmente esfacelado.
Isso não significa que o EI estará derrotado. A facção pode simplesmente se metamorfosear em um grupo terrorista mais tradicional, em vez de uma organização com ambições de formar uma nação islâmica.
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