Repórter especial da Folha, foi correspondente nos EUA e escreve sobre política e economia internacional. Escreve às sextas-feiras.
Esquizofrenia dos EUA no Golfo
A esquizofrenia da política externa dos Estados Unidos colabora para a crise do Qatar, que está cada vez mais longe de uma solução. Nesta terça-feira (4), o Qatar enviou uma resposta às 13 exigências feitas pela Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos e Bahrein para suspender o embargo.
A resposta foi considerada insatisfatória pelos países que impõem bloqueio ao Qatar desde 5 de junho. Além de cortarem relações diplomáticas, os países fecharam as fronteiras terrestres e proibiram aviões qatarianos de sobrevoar seu espaço aéreo. Cidadãos do país foram expulsos de Arábia Saudita, Emirados Árabes e Bahrein, e os nacionais desses países estão proibidos de ir ao Qatar.
Carlos Barria - 1º.fev.2017/Reuters | ||
Donald Trump (à dir.) e o secretário de Estado dos EUA, Rex Tillerson |
Os países justificam o embargo dizendo que o governo do Qatar apoia o terrorismo. Apresentaram uma lista de exigências para suspender o bloqueio. Entre elas, está o fechamento da rede de TV Al Jazeera, limitação das relações diplomáticas e comerciais com o Irã e a "suspensão do patrocínio a grupos terroristas" como Al Qaeda, Estado Islâmico e a milícia xiita libanesa Hizbullah.
O prazo prorrogado para cumprimento das exigências venceu na terça-feira, e a resposta enviada pelo Qatar ao mediador da crise, o governo do Kuwait, foi considerada insatisfatória pelos países, que vão manter e podem até ampliar o boicote.
O pequeno país do Golfo é o maior produtor de gás natural do mundo e será sede da Copa de 2022.
Como se não bastassem todas essas complicações, a política externa dos Estados Unidos em relação à crise do Golfo tem sido esquizofrênica. Enquanto o secretário de Estado Rex Tillerson fala xis, o presidente Donald Trump tuíta ypsilon.
Trump tem demonstrado apoio à Arábia Saudita.
"Em minha viagem recente ao Oriente Médio afirmei que não pode mais existir financiamento para ideologias radicias. Os líderes apontaram para o Qatar", tuitou Trump logo após o embargo ser anunciado.
Ele frequentemente elogia o monarca saudita, a quem chama de meu amigo, e acusou o Qatar de ser "um financiador de terrorismo nos mais altos níveis".
Já Rex Tillerson, o departamento de Estado e o Pentágono mostram-se mais solidários ao Qatar e pedem moderação aos países do Golfo.
Tillerson afirmou que "algumas das exigências serão muito difíceis para o Qatar cumprir" e exortou todos os envolvidos a negociarem. Depois, pediu "diálogo calmo e criterioso".
O Senado, enquanto isso, faz sua diplomacia paralela. O senador republicano Bob Corker, líder do comitê de relações exteriores do Senado, anunciou que vai congelar as aprovações a futuras vendas de armas dos EUA aos países do Golfo enquanto a crise não for resolvida. O comitê precisa aprovar as vendas.
A Arábia Saudita, que havia negociado mais de US$ 110 bilhões em declarações de intenção de compra de armas americanas durante a visita de Trump a Riad, não gostou nada disso.
A manobra de Trump de atacar Qatar de frente é perigosa. Al Udeid, no Qatar, é a maior base militar americana no Oriente Médio. É de lá que partem grande parte dos ataques aéreos contra o Estado Islâmico.
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