Jornalista formada pela USP, escreve sobre economia e política às sextas-feiras.
Levy e os esqueletos do governo
O discurso do novo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, foi música para os ouvidos do mercado. Os comentários entre empresários e banqueiros, que esperavam o apocalipse no segundo governo Dilma, eram bastante otimistas.
Mesmo sem detalhar seus planos, Levy prometeu para os negócios algo raro nos últimos anos: previsibilidade.
Ele anunciou uma meta fiscal crível de economizar 1,2% do PIB para pagar os juros da dívida em 2015 e sinalizou que o superávit primário será de pelo menos 2% nos dois anos seguintes - o suficiente para reduzir a dívida pública bruta.
Um horizonte de três anos é um luxo comparado com os inúmeros pacotes, mudanças de rota e promessas não cumpridas de seu antecessor Guido Mantega, sempre com aval da presidente, é bom frisar.
Tecnicamente Levy é muito preparado. Seu maior desafio será político e não estou falando aqui da gritaria da esquerda do PT, que é sempre chamada nas eleições e convenientemente esquecida depois.
O governo petista tem muitos esqueletos no armário que podem atrapalhar os planos do novo ministro. O escândalo da Petrobras é o mais óbvio deles, mas não podemos esquecer dos bancos públicos.
Levy fez questão de frisar que é preciso conter os repasses do Tesouro para os bancos públicos. BNDES e Caixa foram várias vezes utilizados para bancar e salvar projetos desenvolvimentistas mirabolantes e ajudar os negócios dos amigos do rei.
Se a torneira dos bancos públicos realmente secar, o que vai ser desses projetos? Como o governo vai lidar com esse desgaste de imagem? Qual vai ser o tamanho da gritaria desses empresários, que estão entre os maiores financiadores de campanhas políticas no Brasil?
Dilma e Levy terão traquejo político para lidar com esses e muitos outros desafios? Ou o ex-presidente Lula está tão empenhado nas eleições de 2018 que vai nos bastidores descascar esses abacaxis para os seus "afilhados"? Só o tempo vai dizer. Por enquanto, o que temos de Levy é um bom começo.
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