Jornalista formada pela USP, escreve sobre economia e política às sextas-feiras.
A irresponsabilidade britânica
A saída do Reino Unido da União Europeia é uma irresponsabilidade política e um suicídio econômico.
Os britânicos que votaram a favor do "Brexit" não avaliaram as consequências e pensaram apenas em expulsar poloneses, tchecos, turcos etc.
O argumento é que os imigrantes "roubam" empregos britânicos, mas não passa de mal disfarçado preconceito. Na maior parte dos casos, a imigração ocupa funções —garçons, faxineiros, babás, enfermeiros— que há muito tempo os ingleses não executam.
Ao se preocupar apenas em frear a imigração, o Reino Unido deu um tiro no próprio pé, já que a Europa absorve mais de 50% das suas exportações.
Isso significa que produtos e serviços britânicos devem voltar a ser taxados para entrar em 27 países, o que representa aumento de custo e perda de competitividade.
Mesmo que os governos tentem minimizar os danos nas complicadas negociações para a saída que ainda estão por vir, o efeito será uma desaceleração da atividade no Reino Unido e em toda a já combalida Europa, com reflexos pelo mundo.
A vitória do "Brexit" também é uma imensa irresponsabilidade política. Vai dar força a movimentos separatistas e à extrema direita em toda a Europa e até fora do continente europeu.
O Reino Unido entrou na União Europeia em 1973, mas o bloco vem desde a Comunidade Europeia do Carvão e do Aço criada após duas guerras mundiais.
A ideia era superar o trauma por meio da integração, pondo fim a rivalidades históricas e garantindo a paz, apesar das dificuldades, o "sonho europeu" parecia ter se tornado realidade nas últimas décadas, com a queda do muro de Berlim, os sucessivos alargamentos do bloco e a introdução do euro.
Os britânicos agora dão marcha à ré no processo, esquecendo que a xenofobia já deixou a Europa à beira do abismo.
A esquerda progressista e os conservadores moderados do Reino Unido assistiram à vitória da extrema direita no plebiscito tão atônitos quanto o resto do mundo.
Mas não deveria ter sido uma surpresa. Orgulhosos de sua cosmopolita capital, os "londoners" fecharam os olhos para o tratamento dos imigrantes, inclusive europeus, como cidadãos de segunda classe durante tempo demais.
Graças a essa complacência e ao combustível fornecido pela crise econômica, a extrema direita ganhou um fôlego que nada foi capaz de deter —nem mesmo o assassinato de uma parlamentar às vésperas do plebiscito.
Como mostra o comportamento dos mercados financeiros após a vitória do "Brexit", vamos todos pagar o preço, porque o mundo já está integrado.
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