Análise
Corujão de Doria é paliativo e não resolve questões cruciais da saúde
O programa Corujão da Saúde começou nesta terça (10) em quatro hospitais de São Paulo e já enfrenta entraves. O primeiro é que várias pessoas que estão na fila de espera de exames não são encontradas pelas equipes.
Existe também o temor de que haja altas taxas de absenteísmo, o que já ocorre em algumas unidades públicas. Outra questão é que os pacientes que realizarem seus exames agora não terão o problema de saúde resolvido de imediato em razão da falta de especialistas e de vagas para a realização de cirurgias.
Adriano Vizoni/Folhapress | ||
O prefeito João Doria conversa com estudante durante o início do programa Corujão da Saúde |
A gestão do prefeito João Doria (PSDB) planeja uma nova etapa do Corujão com a meta de acelerar a realização de consultas e cirurgias.
A questão é que o Corujão é uma medida paliativa, resolve temporariamente as queixas de um grupo de pessoas (e isso é bom), mas não ataca os problemas cruciais que geram as filas de espera, como falhas na atenção básica de saúde e falta de integração e hierarquização entre as unidades assistenciais.
Em seu programa de governo, Doria promete, por exemplo, "reforçar o atendimento primário à saúde pelo preenchimento das vagas existentes nas equipes do Programa de Saúde da Família e das Unidades Básicas de Saúde, requalificando e valorizando os profissionais". Mas ainda não disse como e quando isso vai acontecer.
Hoje o paciente fica perdido dentro de um labirinto de unidades de saúde municipais e estaduais, administradas por várias organizações sociais (OSs) que, muitas vezes, não conversam entre si.
A confusão é tão grande que mesmo essa fila de quase 500 mil pedidos de exames que o Corujão pretende zerar em 90 dias é questionada por alguns especialistas. É muito comum as pessoas se inscreverem em vários serviços de saúde e, quando conseguem uma vaga num lugar, o nome continua no outro.
Uma das promessas de Doria é a integração dos sistemas municipais e estaduais de saúde, mas a proposta ainda não foi detalhada. A falta dessa integração gera bizarrices como a fila de 500 mil pessoas à espera de exames na rede municipal, enquanto existem AMEs (Ambulatórios Médicos de Especialidades), ligados ao governo estadual, com taxas de absenteísmo de 30%.
Até agora, as únicas integrações anunciadas pela gestão municipal foram dos números de emergência 190, 192 e 193 (haverá apenas um número na cidade) e do empréstimo de quatro carretas de um programa estadual para ajudar a reduzir a fila de exames.
CORUJÃO DA SAÚDE - Programa tem objetivo de zerar fila de exames
Para especialistas, as carretas são uma reinvenção dos mutirões e, portanto, mais um paliativo. Fica muito mais barato oferecer esses serviços em unidades fixas, de modo a incluir esses pacientes no sistema para serem cuidados de forma contínua.
Um exemplo citado é o caso dos mutirões de oftalmologia. O paciente faz exame, recebe tratamento, mas, se o problema foi causado por diabetes, precisará ser acompanhado na atenção primária para manter a doença sob controle. Do contrário, pode ficar cego, sofrer amputações, além de outros danos.
Se a cidade perseguir uma atenção primária que funcione de fato, com a ampliação e qualificação das equipes de saúde da família, por exemplo, a demanda por especialistas, exames e internações tende a ser menor. Até 80% das queixas podem ser resolvidas na atenção básica, caso ela seja mais resolutiva.
Por que então a atenção primária não foi eleita como prioridade? Talvez porque não dá visibilidade. É como falar em investir em saneamento básico para combater o mosquito Aedes aegypti.
A boa notícia é que Doria está cercado de bons técnicos e há tempo de sobra para a equipe realizar as mudanças que o sistema necessita.
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