Mortes: Pediatra era sereno em casa, no hospital e no campo
Arquivo Pessoal | ||
O pediatra Fauze Haddad (1935-2017), à direita |
Dr. Fauze levantava da cama assobiando o hino do São Paulo, mas nem o time atual seria capaz de tirá-lo do sério. Se não perdeu a compostura durante toda uma vida de plantões e emergências, por que o faria assistindo a um jogo de domingo à tarde?
"Ele ficava quietinho. Era educado até nisso", lembra a mulher Márcia, com quem viveu por 51 anos. "Ele tão calmo, eu extrovertida, briguenta. Foi por isso que deu certo."
Filho de libaneses, Fauze só se ausentou de Monte Alto, região de Ribeirão Preto (SP), para estudar medicina. Cursou a graduação em Uberaba (MG) e a residência em pediatria, em São Paulo.
Retornou à cidade de origem em 1965 e por lá ficou –na Santa Casa local, foram 45 anos de serviços prestados.
E foi tranquilo que enfrentou a epidemia de meningite que assolou o Estado nos anos 70. Sua aura crescia em Monte Alto: não havia por que se preocupar em entregar os filhos ao homem que não tremeu diante do vírus.
Estudioso e simples no trato, atendia a todos."A medicina para ele era justiça cega. Nunca diferenciou o grandão do pequenino", diz Márcia.
No clube dos veteranos, jogou bola até quando a saúde deixou. Zagueiro dos mais confiáveis, nunca se afobava. Chamavam-no Mauro, em alusão ao capitão da seleção bicampeã mundial em 1962.
Se emocionar-se é perder a calma, talvez isso tenha ocorrido só duas vezes: na formatura dos filhos, também médicos, ao ver em seus dedos o anel que Márcia lhe deu quando recebeu o diploma.
Morreu no dia 25, aos 81, após pneumonia. Deixa Márcia, dois filhos e quatro netos.
coluna.obituario@grupofolha.com.br
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