Descrição de chapéu Obituário Maria Luiza Ourique do Amaral Fadul (1917 - 2018)

Mortes: Vinda dos Açores, escapou de torpedo e viveu até os 100 anos

Crédito: Arquivo Pessoal Maria Luiza Ourique do Amaral Fadul (1916-2017)
Maria Luiza Ourique do Amaral Fadul (1916-2017)

ANTONIO MAMMI
DE SÃO PAULO

Antes de chegar a Santos, o navio em que estava Maria Luiza parou no Rio. Estava prestes a amanhecer e a viagem fora tensa –era 1938, às vésperas da Segunda Guerra, e a embarcação, alemã, atravessou o Atlântico em blecaute (o perigo era real: a imigrante contava que o mesmo barco foi torpedeado no caminho de volta para a Europa).

A exuberante alvorada carioca, presenciada pela primeira vez após dias de incerteza, foi das imagens mais marcantes registrada pela centenária, então uma jovem de 21 anos vinda dos Açores.

Instalou-se na Vila Mariana, na zona sul de São Paulo, onde Luiz, seu pai, começou um negócio de importação de bordados da Ilha da Madeira. Viveu 79 anos no bairro.

O paulistano que Maria Luiza conheceu ao chegar era muito diferente: segundo ela, uma população de baixinhos ensimesmados que teriam se diversificado com o tempo.

Loira, como é comum aos açorianos, foi confundida com alemã pelo leiteiro depois de o Brasil declarar guerra ao Eixo –ele se recusou a entregar o produto e foi devidamente enxotado pelo pai da moça.

Sua irmã mais nova, Manuela, enviuvou cedo e Maria Luiza passou a ajudá-la com as tarefas de casa. Seu papel foi fundamental na educação das sobrinhas Carla e Adriana. Não teve filhos próprios, apesar de ter sido casada com João, filho de libaneses que conheceu no ponto de ônibus.

Vaidosa e elegante, gostava de moda e decoração. A lucidez, marcada pelo brilho no olhar e pela destreza no tricô, foi mantida até o fim.

Morreu no último dia 4, aos 100, após complicações de um AVC. Deixa quatro sobrinhos.

coluna.obituario@grupofolha.com.br


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