A revolução do dinheiro eletrônico por meio dos bancos comunitários
O Brasil possui 200 milhões de pessoas e 270 milhões de linhas de celulares. Neste mesmo país, 48% da população não tem conta-corrente.
Fazendo uma salada com os números, fica fácil concluir que os celulares podem se apresentar como uma boa solução para os "desbancarizados".
Foi essa a perspectiva da Lei 12.865, de 9 de outubro de 2013, que regulamentou os arranjos e as instituições de pagamento eletrônico, entre eles, os pagamentos móveis.
A inclusão financeira, via celular, tem um impacto social e uma capilaridade bem mais abrangente do que o tradicional sistema de correspondentes não bancários. Chega aos locais mais longínquos porque é mais simples. É uma solução mais barata e mais ecológica, dispensa uma parafernália de máquinas e equipamentos.
O Instituto Banco Palmas criou, com seus parceiros, uma plataforma eletrônica chamada "e-dinheiro", que em breve vai se espalhar por todo o Brasil através da Rede Brasileira de Bancos Comunitários: dos ribeirinhos da Amazônia às periferias de São Paulo, das quebradeiras de coco no Piauí aos quilombolas de Alcântara (MA), dos índios Tremembés no Ceará aos morros do Rio de Janeiro. Onde tiver Banco Comunitário lá estará o "e-dinheiro", independe de acesso a internet.
Com o aplicativo "e-dinheiro" pode ser feito depósitos, transferências, pagamentos, recebimentos, sem precisar da intermediação de um banco tradicional. O custo para os usuários e comerciantes é bem menor que qualquer alternativa. Como a gestão é do Banco Comunitário, a plataforma permite a criação de circuitos econômicos locais ao se organizar uma rede de grandes e pequenos comércios na região/município por onde circulará o dinheiro eletrônico. Além dos ativos circularem na própria região gerando trabalho localmente, o rendimento destas operações ficam para o Banco Comunitário reinvestir na comunidade.
É um caminho sem volta. As soluções via celular chegaram para ficar. Como toda tecnologia, ela pode ser apropriada por grandes empresas para simplesmente acumular fortuna ou servir como uma ferramenta de distribuição de riqueza e redução das desigualdades. Essa última é a perspectiva dos Bancos Comunitários.
Só resta uma pergunta: as classes C, D, E estão preparadas para utilizar o celular como meio de pagamento/recebimento? Avaliamos que não. Pelo contrário. Existe um enorme desconhecimento dos setores populares quanto à praticidade, efetividade e segurança dos celulares para operações financeiras. Diante desse desafio, os Bancos Comunitários estão se organizando para chegar a 2 milhões de brasileiros com uma campanha de educação financeira voltada para a utilização do celular como meio de pagamento/recebimento.
Está em curso uma revolução no campo das finanças.
Joaquim Melo, teólogo e educador, é coordenador-geral do Instituto Banco Palmas e integrante da Rede Folha de Empreendedores Socioambientais