Uso político de jogo rouba cena em goleada da seleção brasileira
Poucas vezes uma partida de futebol foi tão usada politicamente como o amistoso entre Bolívia e Brasil, disputado ontem à tarde, em Santa Cruz de la Sierra.
Em campo, um desfalcado time da CBF, formado só por jogadores que atuam no Brasil, bateu a Bolívia por 4 a 0.
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Longe do gramado, houve de tudo. O presidente da Bolívia, Evo Morales, aproveitou as câmeras para anunciar um pacote de ajuda do governo aos clubes locais, Blooming e Oriente Petrolero.
Teve que acabar falando sobre outro assunto que dominou o jogo, a situação dos torcedores presos em Oruro.
Desde o dia 20 de fevereiro há 12 corintianos presos, acusados da morte do estudante Kevin Beltrán Espada, no jogo entre San José e Corinthians, pela Libertadores.
E Evo Morales deixou claro que não vai interceder, apesar dos pedidos que ouviu de deputados brasileiros e até do presidente da CBF, José Maria Marin, que lhe entregou uma camisa da seleção assinada pelos jogadores.
"Na Bolívia, há poderes independentes. Isso está no Judiciário, e o Executivo não tem certas atribuições", disse Morales quando questionado pela Folha a respeito.
O presidente boliviano afirmou ainda que não falou com a presidente Dilma Rousseff. "Companheira Dilma tem muito respeito pela independência dos nossos poderes."
Houve ainda toda a polêmica sobre a homenagem a Kevin Beltrán Espada e sua família. Não houve menção ao estudante morto, antes, durante ou depois do jogo.
"Cabia, sim, alguma homenagem", disse o vice-presidente da CBF, Marco Polo Del Nero. O pai de Kevin, Limbert Beltrán, viajou até Santa Cruz de la Sierra, mas não foi ao estádio Ramón Aguilera.
"Ele está abalado, não consegue ir a um jogo de futebol", disse o deputado federal Vicente Cândido (PT-SP), que se encontrou com a família para negociar uma indenização oferecida pelo Corinthians.
O destino da renda da partida também foi motivo de divergências. "Isso só vamos discutir depois, e será uma decisão nossa", disse o presidente da federação boliviana, Carlos Chávez.
Em meio a tudo isso, houve futebol. Quando Neymar fez o segundo gol do Brasil, o terceiro dele, Evo Morales não resistiu. Aplaudiu, abriu um sorriso, e repetiu várias vezes com as mãos o gesto de quem imita uma cavadinha.
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