Prefiro estar numa seleção vencedora a ser titular da equipe, diz Filipe Luís

Crédito: Paulo Whitaker/Reuters
Filipe Luís em treino da seleção brasileira

LUÍS CURRO
DE SÃO PAULO

Há pouco mais de um ano, Dunga era o técnico da seleção brasileira. Há pouco mais de um ano, Filipe Luís, 31, era o titular da lateral esquerda.

A eliminação precoce na Copa América Centenário, em 2016, derrubou Dunga. A chegada de Tite também o resgate de Marcelo, 29, para a posição.

A pouco menos de um ano para a Copa, Filipe Luís se vê, na maioria das vezes, no banco de reservas da seleção brasileira, sem nem ter a certeza de que estará entre os 23 que irão à Rússia. Mesmo assim, diz preferir a
situação atual em comparação com 2016.

"Com o Dunga eu vinha jogando, mas o time não vinha bem. Estávamos em um momento complicado, fora da zona de classificação para a Copa [de 2018]. Eu prefiro estar sempre em um time vencedor", afirmou o lateral em entrevista à Folha.

Filipe Luís se considera um dos três melhores laterais do mundo. Não é um craque, mas sua regularidade impressiona. Tem, entretanto, o azar de ser conterrâneo e contemporâneo de Marcelo, considerado o melhor dos melhores.

Assim, Filipe Luís se tornou na seleção uma espécie de reserva de luxo. Condição que não o incomoda, mas que também não o acomoda.

"O titular sempre tem uma importância maior, mas o Tite faz todo mundo se sentir muito importante ali dentro. O Marcelo é o titular, e o meu objetivo é sempre colocar pressão nele."

Folha - Como avalia o trabalho de Tite na seleção brasileira?
Filipe Luís - O treinador tem que chegar no momento certo. Aconteceu com o Tite, que conquistou muito o grupo. Ele faz todas as coisas simples e objetivas, então é muito fácil escutar o que ele quer e executar no campo. Vem tudo mastigado. O pessoal está muito, muito feliz com ele.

Com Dunga você era titular. Com Tite, perdeu a posição para Marcelo. Não foi ruim para você essa troca?
O titular sempre tem uma importância maior, mas o Tite faz todo mundo se sentir muito importante. Eu me sinto no mesmo patamar de importância que o Marcelo. Com o Dunga eu vinha jogando, mas o time não vinha bem, estávamos em um momento complicado, fora da zona de classificação para a Copa do Mundo. Eu prefiro estar sempre em um time vencedor.

Você fica satisfeito em apenas compor o grupo?
O Marcelo é o titular. O meu objetivo é colocar pressão nele. Eu quero estar disponível para, quando o treinador precisar de mim, eu estar pronto. Eu quero dar uma dor de cabeça ao técnico, estar no meu melhor momento no clube, estar arrebentando, para que ele possa olhar para o grupo e falar "eu tenho dois laterais, e quem eu colocar está bem". Está bonita essa briga.

Crédito: Vanderlei Almeida/AFP
Tite conversa com Marcelo e Filipe Luís em treino da seleção brasileira

Guarda alguma mágoa de não ter sido convocado pelo Felipão para a Copa de 2014?
Não foi injusto. Se tivesse sido, talvez eu tivesse alguma mágoa. O Maxwell foi convocado o ano inteirinho antes da Copa, tinha feito uma temporada maravilhosa no Paris Saint-Germain. Não há mágoa, muito menos dele [Maxwell], que é meu amigão.

Qual o melhor lateral esquerdo do mundo hoje?
Os três são brasileiros. O momento do Marcelo é único, talvez o melhor da carreira dele, sendo campeão, jogando bem todos os jogos. Por tudo que ele está conquistando, no momento é o melhor, por tudo o que está vivendo na vida dele, por todos os títulos que está ganhando. Depois estamos eu e o Alex Sandro [vice-campeão europeu com a Juventus], na mesma pegada. Esses três estão sobrando.

Você teve uma passagem pelo Real Madrid B em 2005 e 2006, mas acabou não ficando...
Fiquei um ano no time B, jogava a segunda divisão da Espanha, e foi uma temporada muito boa. Eu já vinha de temporadas no profissional do Figueirense e do Ajax [da Holanda], então, quando eu joguei no time B, eu senti como se, de novo, estivesse na categoria de base, e eu achava que já tinha dado esse salto. Vieram propostas e eu tive duas escolhas: ir para o São Paulo ou ir para o La Coruña. Decidi pelo La Coruña porque queria ficar na Europa, até ganhando muito menos. Acabei dizendo não para a renovação com o Real Madrid B. Não tive paciência, como teve agora o Casemiro, de ficar lá. Mas sou muito grato por tudo o que aconteceu depois.

Você considera que há o que melhorar no seu futebol?
Sempre fui um cara de fazer poucos gols. Tenho bastantes oportunidades de fazer os gols, mas não tenho essa frieza que os atacantes têm, de chegar na frente do goleiro e ter calma para fazer o gol. Nesse último ano eu consegui corrigir um pouco isso, com bastante treinamento, e até acabei fazendo alguns gols [na temporada 2016/2017, foram três pelo clube e um pela seleção]. Essa era uma coisa que eu queria muito melhorar e acabei conseguindo.

Tem algum hobby?
Gosto muito de jogar xadrez. Fiz aulas, cursos, fico jogando on-line, chamo amigo em casa. O xadrez consegue ajudar na vida? Acho que sim, para aprender a se concentrar. No xadrez, se você não está concentrado, você vai perder. No futebol é a mesma coisa. Se você está desconcentrado, está pensando em outra coisa, pode até jogar bem, mas não vai ser excelente. O jogo exige concentração todo momento, o cara que está passando do lado, o tempo certo de bola para subir de cabeça...
E o xadrez também: analisar as jogadas, as ameaças. É um jogo que mentalmente exige muito. Mas meu hobby principal é ficar com meus filhos, é a grande paixão da minha vida.

Depois de parar de jogar você pretende ser treinador?
Sim. Gostaria muito de ser técnico ou estar em uma comissão técnica. Acho que tenho boa capacidade de leitura de jogo, faço isso bem. Mas é preciso gerenciar o grupo, falar com os jogadores, essa parte não sei se conseguiria. Todos os grandes técnicos são meio doentes por futebol. Os que são campeões respiram muito futebol, analisam tudo. Eu tenho isso no meu sangue.

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