PAULO ROBERTO CONDE
DE SÃO PAULO

Na manhã de 31 de outubro o celular de Yoandy Leal recebeu duas ligações seguidas.

Na primeira, soube por seu empresário que a espera havia acabado. Na segunda, foi surpreendido ao ouvir a voz do técnico da seleção masculina, Renan Dal Zotto, 57.

O comandante afirmou que a FIVB (Federação Internacional de Vôlei) havia encaminhado à confederação brasileira um ofício que antecipava sua liberação para atuar pela equipe brasileira.

Em vez de esperar até abril de 2019 para poder atuar, já poderia representar a equipe brasileira a partir de 2018.

O diálogo sucedeu mais ou menos do seguinte modo:

"Eu quero saber quais são seus sonhos e suas intenções com a seleção brasileira. Tenho planos para você no time", indagou-lhe o treinador.

"Fico muito feliz com o interesse e a oportunidade de jogar na seleção. Estou agradecido. Vou dar sequência ao trabalho no clube, me entregando 100% como sempre fiz. Se você me convocar, pode ter a certeza de que farei o meu melhor", rebateu o jogador.

Aquela conversa, única entre ambos, selou tacitamente a primeira convocação de Leal para o time verde e amarelo, atual campeão olímpico.

O acerto não durou 24h.

A FIVB emitiu novo comunicado. Desta vez, no entanto, com o anúncio de que havia cometido um engano.

A antecipação do aval para Leal defender a seleção já a partir de 2018 havia sido, na verdade, um erro de registro.

O alarme era falso, e uma eventual estreia pelo novo país ocorrerá em abril de 2019.

"Fiquei muito triste. A notícia saiu, o mundo do vôlei parou e, 24 horas mais tarde, saiu outra, negando. Não há o que fazer a não ser manter o trabalho e esperar mais um ano", afirmou o jogador.

Nascido há 29 anos em Havana, Leal adotou o Brasil como nova casa há mais de cinco anos, em agosto de 2012.

Ao chegar, nem de longe parecia o excepcional ponta que ajudou Cuba a ser vice-campeã mundial em 2010, na Itália. Contratado pelo Cruzeiro, apresentou-se com 118 quilos, 20 acima do ideal, e dúvidas quanto ao futuro.

Foi o preço que pagou por ter desertado logo após o Mundial, desiludido por promessas não cumpridas pelos dirigentes da federação nacional. Ao longo de dois anos, ficou impedido até de treinar, o que resultou na engorda.

Toda a adversidade foi superada em pouco tempo. Em alguns meses no Cruzeiro, o cubano baixou o peso para 97 quilos, melhorou passe e bloqueio e ajudou a tornar o time mineiro uma máquina.

De 2012 para cá, sagrou-se tricampeão mundial de clubes, tetracampeão sul-americano e penta da Superliga.

Leal sempre figurou como maior destaque do elenco e, em 2015, conseguiu se naturalizar brasileiro. Pelas regras do esporte, ele ainda precisaria da liberação de Cuba e do aval da FIVB para atuar pela seleção brasileira, pendências resolvidas nesse ano.

Com a iminente convocação, uma pendência o preocupa: a aceitação no grupo.

"Deve ser difícil, porque serei o primeiro estrangeiro na seleção de vôlei", comentou. "Até há casos em outros esportes, mas o vôlei é orgulho nacional. Sei que sofrerei pressão, mas vou dar conta."

Durante o período de adaptação ele quer "mostrar que pode defender a seleção como os outros jogadores".

"Será uma grande honra defender o Brasil. Acho que tenho capacidade de corresponder a essa expectativa."

Leal cumpre seu último ano de contrato com o Cruzeiro. Apesar da vontade de seguir, não descarta aceitar proposta do exterior, sobretudo de um clube europeu.

Dentro ou fora do país, sua prioridade passou a ser defender a seleção brasileira, com o objetivo final de disputar os Jogos Olímpicos de Tóquio, em julho de 2020.

"Cheguei ao Brasil em 2012 sempre com a mentalidade de ser número 1 do mundo, de lutar por isso", disse.

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