Crítica - Restaurante
Shinju tem muito e não satisfaz em nada
Casa quer se destacar por teppan, mas tem degustação, rodízio e outros, em ânsia de mostrar tudo
Não é à toa que os fantásticos restaurantes do Japão são especializados em alguma vertente da cozinha local. Um só serve sushi; outro, somente massas; há os que se especializam no porco frito; e os que só servem tempurá. Alguns, mais raros, se dedicam ao omakassê, uma degustação com várias técnicas. Já no Brasil, há uma ânsia de mostrar de tudo. Não é fácil --como revela o Shinju.
A casa, na verdade, quer se destacar por uma especialidade: o teppan, a cozinha feita numa grande chapa na mesa à frente dos clientes. Mas a casa não deposita aí toda sua energia. O teppan é servido somente no andar de cima e somente à noite (a não ser nos domingos).
E ao mesmo tempo, há lá embaixo o rodízio correndo solto no salão. Ou as múltiplas escolhas do cardápio à la carte (que tem de massas a teriyaki, passando por sushi e tempurá). Enquanto, no balcão, fica disponível o omakassê para os poucos que, entre o rodízio, o teppan e o à la carte, prefiram se aventurar aos desígnios do chef.
No fim, nada se destaca. Ou talvez o destaque fique com a mais prosaica das opções, a do rodízio, onde pelo menos não impera só a trinca atum, salmão e "peixe branco" (que ali costuma se resumir à insípida tilápia ou ao oleoso agulhão, ou prego).
Na área do teppan, teoricamente o principal atrativo da casa, nota-se um cuidado em não exorbitar no ponto dos camarões, das carnes, mesmo do frango, mas, assim como os legumes e o arroz, todos parecem presos à mesma frequência pobre de sabor, a falta de temperos.
Já o omakassê é um desafio --uma degustação tête à tête, com pequenas iguarias, precisa ser exponencial para chamar a atenção. No Shinju, ela pode ter itens como sashimi de atum e pargo, salmão com ouriço e ovo de codorna, marisco do Alasca com yuzu, carne tipo kobe maçaricada com sal negro, todos feitos com dedicação pelo sushiman.
Mas são às vezes excessivos (meia dúzia de ostras para começar uma sequência de 16 pratos?), repetitivos (quantas vezes aparece o nabo ralado com dedo-de-moça, o azeite trufado?), grosseiros (tempurá de camarão envolto em macarrão?).
Quem sabe se a energia do restaurante fosse focada nos sushis mesmo; ou que seja, nos teppans; ou simplesmente na despretensiosa proposta do rodízio; isso pudesse tirar a casa desta sensação de que oferece muito, com tanta dedicação, mas não satisfaz em nada.