Igreja cria grupo para atrair estudantes para a religião
Arcebispo fez comissão para dar 'acompanhamento religioso' a escolas
Para aproximar-se de universitários, bispo pretende realizar fóruns sobre bioética e o sentido da vida
As festas universitárias reforçaram uma preocupação da Igreja Católica com o público estudantil, afastado dos hábitos da religião.
"Os estudantes se encontram para tomar cerveja. Por que não se encontram para estudar a bíblia?", propõe Carlos Lema Garcia, 58, bispo auxiliar de São Paulo.
Formado em direito pela USP, Garcia encabeça o vicariato criado em junho pela Arquidiocese para a educação. É uma espécie de comissão encarregada de mapear escolas e faculdades, não só as católicas, às quais oferecerá acompanhamento religioso.
A Jornada Mundial da Juventude no Rio, em 2013, acendeu esse alerta. "Os jovens encheram Copacabana, mas não nossas igrejas", observou dom Carlos Lema.
Sua estratégia de aproximação de universitários se dará por meio de fóruns sobre atualidades como ciência e bioética ou o sentido da vida. "A USP não tem capela, mas há alunos que se reúnem para orações", diz. Ele quer potencializar os encontros.
VIGÍLIA
Lema avaliou que, "como gostam de noite", uma atividade para os jovens deveria acontecer nesse período. Marcou, então, no dia 12 de dezembro, a primeira vigília na paróquia da Pontifícia Universidade Católica, uma noitada com missa e música.
Igrejas evangélicas têm adotado estratégia semelhante na tentativa de cativar fieis, com shows e baladas gospel, eventos cada vez mais profissionais. Para o bispo, porém, a ameaça vem de outra parte --da "secularização da vida de fé em geral", avalia.
"Existe uma crise na família. As pessoas se casam sem saber o que estão fazendo. Se cumprir sua missão de mãe mestra, a Igreja Católica vai atrair [jovens]. Vivemos um momento laico, mas nossa sociedade ainda é cristã", diz.
No decreto de criação do vicariato, o cardeal Odilo Pedro Scherer, arcebispo de São Paulo, considerou que "os cristãos são chamados a contribuir ativamente nos processos da educação e nas realidades do mundo acadêmico mediante as luzes e a sabedoria do Evangelho".
PROVA DE FOGO
Para dom Carlos Lema, o sucesso da empreitada dependerá da "receptividade das escolas". Algumas já têm vínculos com a igreja.
Resta saber como reagirão as demais. Para poder oferecer acompanhamento a escolas públicas (por definição, laicas), o vicariato diz ter procurado o governo estadual para propor regulamentação de lei que prevê oferta do ensino religioso como optativo.
Para exemplificar as atividade que pretende promover, Garcia cita a do colégio Maria Imaculada, onde se exibiu o filme "À Prova de Fogo", sobre a "crise conjugal".
Depois, pediu-se aos alunos que identificassem cinco valores católicos abordados nas entrelinhas. Cada grupo tentou localizar frases na bíblia em referência a esses valores e as anotou em cartazes.
"É uma atividade mais acadêmica do que religiosa", mas que permite o resgate de de valores do "projeto mais maravilhoso que existe, o matrimônio", disse o bispo.