'Não se pode usar base como uma receitinha'
A diretora executiva da ONG "Todos Pela Educação", Priscila Fonseca da Cruz, defende a base curricular comum apresentada pelo governo federal, mas pondera que as escolas devem ir além do conteúdo mínimo proposto.
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Folha - A sra. é a favor de um currículo nacional com base comum? Ele deve ser mais aberto ou mais fechado?
Priscila Fonseca da Cruz - A definição de uma base faz com que se tenha clareza em relação ao que os alunos têm direito de aprender.
É questão também de equidade porque, muitas vezes, em escolas que atendem uma população com condição socioeconômica mais alta, aquilo que se espera que os alunos aprendam é superior, enquanto há municípios e Estados com baixíssimas expectativas, que acham normal haver mais de metade das crianças analfabetas em determinada série.
Quais as preocupações?
É preciso um currículo que vá além desse documento. [O risco] é que aquilo que deveria ser uma base nacional possa virar um currículo máximo, com as escolas focando só nisso.
Quando o ministro fala que isso [conteúdo fixo do currículo] é 60% e tem de haver outros 40% [a serem definidos] é uma sinalização importante. Como a gente garante que as escolas não vão pegar esse documento e interpretar como se fosse a receitinha do primeiro ano?
E a flexibilização do currículo do ensino médio?
É uma discussão no Congresso Nacional e que o Todos pela Educação defende. Os alunos hoje vão lá cumprir tabela, fazer Enem, tirar pontuação e cuidar da vida. A gente precisa resgatar e modernizar nosso ensino médio.
E é importante que tenha uma escola com identidade. Uma que está no campo trabalha mais questões ligadas ao ambiente. Outra com vocação tecnológica, em que os alunos adoram computador.