Entrevista - Eduardo Cunha
Dilma errou muito e usou PMDB para ter tempo de TV
LÍDER DO PARTIDO AFIRMA QUE PRESIDENTE SOMENTE COMEÇOU A FAZER POLÍTICA EM 2013 E QUE DEMITIR DIRETOR DA PETROBRAS AGORA É INÓCUO
FERNANDO RODRIGUES DE BRASÍLIAA presidente Dilma Rousseff cometeu muitos erros políticos em seu governo. Por essa razão, sofre as consequências na campanha pela reeleição. A petista teria de ter demitido a diretoria inteira da Petrobras quando começaram a surgir as acusações de corrupção dentro da estatal, diz o líder do PMDB na Câmara, deputado Eduardo Cunha, do Rio. Dá tempo ainda? "Agora é inócuo", diz.
Aos 56 anos e prestes a iniciar seu quarto mandato consecutivo, Cunha é pré-candidato a presidente da Câmara em 2015. Em entrevista à Folha e ao UOL, ele afirmou que a eleição presidencial está muito "dura" para Dilma.
Cunha não esconde certo ressentimento do PT e de Dilma, com quem sempre teve relação conflituosa. Para ele, o PT usou o PMDB apenas para "aluguel de tempo de TV".
Leia trechos da entrevista:
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Folha - Dilma cometeu erros?
Eduardo Cunha - Não na campanha, mas no governo. Faltou muita política no governo. Política é conversar. O governo só começou a fazer política depois das manifestações de junho de 2013, até recuperar a popularidade. Depois, voltou à arrogância.
O que Dilma poderia ter feito?
Poderia ter tido um comportamento diferente. Talvez aquele comportamento que ela começou quando houve as manifestações. O PMDB tem a nítida sensação de que não é partícipe de nada, nem da campanha eleitoral. O PMDB foi apenas um aluguel de tempo de televisão.
É humilhante para o PMDB?
Para o PMDB, é. Talvez essa seja uma das razões que explique a posição em que o PMDB está nessa campanha: extremamente dividido.
Quem foi melhor no debate?
Achei Dilma um pouco mais nervosa do que o Aécio. Ele mais à vontade.
No início de 2013, o sr. disse que Dilma precisaria recompor o governo...
Aconteceu para pior. Não houve a repactuação. Houve a simples substituição [de ministros]. A presidente nomeou quem quis. Uma parte do PMDB não quis participar.
Se Aécio for eleito, como será a relação do PMDB com o Planalto?
Temos 66 deputados eleitos: 33 defendem Aécio; 33 defendem Dilma. Não sei dizer neste momento. É claro que o vice Michel Temer, que é o presidente do PMDB, na medida que perca a candidatura à reeleição, dificilmente terá condição política de conduzir uma participação no governo [de Aécio]. Também não terá condição de levar o PMDB para a oposição se a bancada está rachada.
Qual o impacto da Operação Lava Jato no Congresso?
Vai ser enorme. O novo Congresso vai começar com uma nova CPI. A tendência é um processo duro, de estresse. Havia um esquema de corrupção muito forte dentro da Petrobras. Tem que separar o que são os fatos reais e verdadeiros das ilações políticas. Separado isso, aquele que estiver envolvido em fatos verdadeiros poderá acabar em cassação. O ano de 2015 vai ser dominado por um processo de depuração da Petrobras. Aliás, já deveria ter sido feita pela própria presidente da República, até para não deixar dúvidas. Eu, se fosse presidente da República, teria demitido todos da diretoria da Petrobras.
A presidente da Petrobras, inclusive?
Inclusive. Fez parte da diretoria com os outros. Não estou dizendo que tenha culpa, até acho que possa não ter.
Mas agora no meio da eleição?
Não digo agora. Quando ficou claro que havia um esquema de corrupção na Petrobras: afasta todo mundo.
Dilma errou ao não fazer isso?
Politicamente, ela errou. Não estou dizendo que ela errou como erro de conduta. Foi um erro político.
Mas agora...
Agora é inócuo.
Um segundo mandato de Dilma será pior ou melhor?
Depende dela. Do seu comportamento. O Lula, quando teve o segundo mandato, aumentou seu arco de alianças. Dilma está diminuindo o seu.
Se continuar assim?
Certamente será pior. Pior e pode terminar bem mais isolada do que começou.