Crítica - Música
Aretha Franklin sobe e desce a ladeira em discos
Enquanto álbum resgata show histórico da diva do soul, regravações de cantoras modernas é lançamento cruel
NÃO HÁ SENTIDO EM OUVIR ARETHA CANTANDO COISAS DE (CREDO!) ALICIA KEYS E SINÉAD O'CONNOR!
THALES DE MENEZES EDITOR-ASSISTENTE DA "ILUSTRADA"Dois discos da cantora norte-americana Aretha Franklin, 72, chegam às lojas brasileiras no formato CD.
Um deles registra show impecável de uma das maiores intérpretes da história. O outro expõe um grande equívoco em final de carreira.
"Aretha Live at Fillmore West" traz as canções que ela apresentou no dia 5 de março de 1971, naquela que era, na época, a principal casa de shows em San Francisco. É o melhor álbum ao vivo de sua discografia.
Aretha é acompanhada pela espetacular Kingpins, a banda do virtuoso saxofonista King Curtis. Ele morreria seis meses depois, aos 37, esfaqueado numa discussão com traficantes dentro de seu apartamento em Manhattan. Os Kingpins deram um peso inédito à performance da cantora.
O chefão da gravadora Atlantic, Jerry Wexler (1917-2008), queria aproximar Aretha do público hippie que consumia rock. Daí vieram a escolha do local, o roqueiro Fillmore West, e um repertório com compositores "jovens".
Entre as dez faixas estão "Bridge Over Troubled Water" (Simon & Garfunkel), "Eleanor Rigby" (Beatles), "Love the One You're With" (Stephen Stills) e "Make It with You" (Bread).
Três das faixas que já eram conhecidas do público de Aretha são alguns de seus singles campeões nas paradas: "Respect", "Don't Play that Song" e "Spirit in the Dark", esta apresentada por ela duas vezes, a segunda em dueto inesquecível com Ray Charles.
Há motivos de sobra para gostar de "Aretha Live at Fillmore West", então seu 18º disco --ela começou a carreira fonográfica em 1956, aos 14 anos, com um álbum gospel de voz e piano, que ela já tocava muito bem.
Mas agora, depois de 45 álbuns e 130 singles, ela acaba de lançar um disco pavoroso.
"Aretha Franklin Sings the Great Diva Classics" se propõe a ser uma homenagem a grandes cantoras, que têm sucessos regravados por Aretha.
O problema é que ao lado de divas verdadeiras, como Etta James e Diana Ross, estão presentes nomes nada merecedores dessa classificação. Pior: algumas são cantoras bem mais novas que devem a Aretha muito de seus estilos.
Não há sentido em ouvir Aretha cantando coisas de Chaka Khan, Gloria Gaynor e (credo!) Alicia Keys e Sinéad O'Connor! E com arranjos que não ajudam em nada.
É muito cruel esse mercado que obriga uma deusa como Aretha a regravar "Rolling in the Deep", da moderninha Adele, para vender discos.