Farrah Fawcett, de volta para o futuro
Dona de rosto e cabelos símbolos dos anos 1970, atriz está em DVD que relança seu filme ambientado no século 23
Em dezembro de 1976, um filme de ficção científica estreou nos cinemas brasileiros. Mediano, sem brilho, "Fuga no Século 23" ficou 11 meses em cartaz em São Paulo. Agora é relançado em box de filmes do gênero e deve atrair os fãs nostálgicos. O motivo: Farrah Fawcett (1947-2009).
A mulher mais desejada do mundo, sentenciou na época a revista "Time". Ela era uma das três detetives de "As Panteras" ("Charlie's Angels"), líder de audiência nos Estados Unidos depois de apenas três semanas de exibição. No Brasil, a série transmitida pela TV Globo fez furor imediato.
As duas morenas foram ofuscadas pela loira do trio, que apresentava um corte de cabelo inovador, esvoaçante e com curvas nas pontas.
Quando "Fuga no Século 23" chegou ao circuito nacional, o séquito de adoradores da atriz correu para ver.
Convém lembrar que na época não havia o VHS no Brasil para gravar coisas da TV. O filme era a chance de ver um pouco mais de Farrah --notadamente as pernas, já que ela usa um minivestido prateado em todas as cenas.
CINCO MINUTOS
Mas a dimensão exata do fenômeno vem de um detalhe impressionante: Farrah demora 43 minutos de projeção para aparecer fica em cena por apenas cinco minutos e dez segundos. Só isso.
Os fãs assistiram ao filme, alguns repetidas vezes, por cinco minutinhos da estrela. Ela faz o papel de Holly, assistente de um cirurgião plástico, e tem seis falas. Tempo suficiente para flertar com o herói Logan, interpretado por Michael York, e rolar no chão brigando com a mocinha (a atriz Jenny Agutter).
Com o sucesso mundial, Farrah quis passar de vez para o cinema e largou "As Panteras" depois dos 23 episódios da primeira temporada. Entrou em disputa judicial com os produtores, que foi selada com o acordo de que ela voltaria para fazer mais seis episódios, distribuídos pelas terceira e quarta temporadas.
"Tive uma ideia melhor de qual era a minha popularidade quando desembarquei em Tóquio para gravar um comercial e fui recebida no aeroporto por mais de uma centena de fãs japonesas com o cabelo tingido de loiro e o mesmo corte que eu usava", disse a atriz em 1977.
Farrah perseguia o sucesso desde 1969, quando estreou na TV como coadjuvante em dois epísódios de "Jeannie É um Gênio". Ela namorava então Lee Majors, ator que vinha de sucesso na série de faroeste "Big Valley" e depois, em 1973, se tornaria conhecido no mundo como o ciborgue de "O Homem de Seis Milhões de Dólares".
Farrah teve participações em outras séries populares no Brasil, como "A Noviça Voadora", "A Família Dó-Ré-Mi", "McCloud", "CHiP's", "S.W.A.T." e o seriado do namorado --e depois, marido.
ESCOLHAS ERRADAS
A fase cinematográfica a partir de 1978 trouxe péssimas escolhas de papel em filmes logo esquecidos. O que ficou na memória, por ser um tremendo abacaxi de sci-fi, é "Saturno 3", em que ela compunha um improvável par romântico com Kirk Douglas, 30 anos mais velho.
Demorou até 1983 para que fosse considerada boa atriz, e foi no teatro. Ela herdou de Susan Sarandon o papel principal de "Extremities", peça polêmica de William Mastrosimone, na qual uma mulher violentada captura seu agressor e passa a torturá-lo.
Farrah ganhou prêmios e foi indicada ao Tony, principal láurea do teatro americano. Em 1986, participou da versão cinematográfica da peça, que se transformou em seu maior sucesso de público e crítica. O título brasileiro foi "Seduzida ao Extremo".
Seu segundo relacionamento duradouro, de 17 anos anos entre separações e reatamentos, foi com o ator Ryan O'Neal, astro do blockbuster de 1970, "Love Story". Farrah teve um filho com ele e passou a trabalhar menos, apenas em filmes para a TV.
DOENÇA E MORTE
Em 2006, ela teve diagnosticado câncer no intestino. Anunciou a cura, mas a doença voltou, como câncer anal. No final de 2008, rodou um documentário sobre seu tratamento, para ajudar campanhas de prevenção.
Reclusa, porque a quimioterapia atacou os cabelos mais famosos do mundo, ela morreu no dia 25 de junho de 2009.
Sua morte não teve a repercussão esperada. Alguma horas depois, no mesmo dia, a morte de Michael Jackson ganhou as manchetes do planeta. Assim, até hoje há quem nem saiba que ela morreu.