Crítica cinema/drama
Com linguagem esquemática, Trapero prejudica boa história de sequestradores
Nos anos 1980, em uma Argentina que saía da ditadura militar e atravessava uma recessão, os Puccio, liderados pelo patriarca Arquimedes Puccio, resolveram seus impasses financeiros sequestrando vizinhos no bairro onde moravam (San Isidro, periferia abastada de Buenos Aires).
Em agosto de 1985, uma ação espetacular da polícia pôs fim ao esquema, no momento em que eles tentavam buscar o resgate de sua quarta e última vítima.
Exatamente 30 anos depois da derrocada dos Puccio, estreou na Argentina a versão para o cinema dessa história.
Rapidamente, se tornou um dos maiores sucessos locais (até o momento, foram 2,5 milhões de ingressos vendidos). Com estreia em circuito prevista para dezembro, saiu do Festival de Veneza com o prêmio de melhor direção para Pablo Trapero, e encerra nesta quarta-feira (14) o Festival do Rio.
O caso do "clã" dos Puccio, como ficou conhecido na Argentina, se inscreve muito facilmente no universo da "realidade que supera a ficção". Trapero poderia filmá-lo de muitas formas. Escolheu a de uma aventura, insistindo em estratégias de identificação, montagens paralelas e trilha sonora com pop, como "Sunny Afternoon", do Kinks.
Mas a história é tão sombria e perturbadora que põe em xeque todas essas escolhas. Ainda que Trapero tente evitar, o horror acaba se impondo.
Não adianta muito ter escalado um ator carismático para viver o protagonista (Guillermo Francella, da comédia "Coração de Leão"); também é um tanto inútil o pouco convincente esforço do roteiro de tornar Alejandro (Peter Lanzani), jogador de rugby e principal comparsa do pai, em um possível herói, com direito a grande catarse.
O único possível herói do filme talvez seja o filho mais novo, Daniel, que no princípio viaja para nunca mais voltar e tenta convencer o irmão mais velho a fazer o mesmo.
Nos breves momentos em que Trapero detém a câmera nos sequestrados, somos tomados pela forte sensação de que há algo estranho não apenas no grau de absurdo da história sendo narrada, mas principalmente nos meios eleitos para contá-la, protegidos pela distância do tempo.
Ao escolher essa história, sem dúvida fascinante, Trapero criou para si um grande desafio. Mas os problemas desse desafio, infelizmente, foram resolvidos de forma bastante fácil e esquemática.
O CLÃ
(EL Clan)
DIREÇÃO Pablo Trapero
ELENCO Guillermo Francella, Peter Lanzani, Lili Popovich
PRODUÇÃO Argentina/Espanha, 2015, classificação não informada
QUANDO qua. (14), às 14h e às 19h, no Roxy 1, av. Nossa Senhora de Copacabana, 945A, tel. (21) 2236-6245
AVALIAÇÃO regular