Mantega deixa gestão com números desfavoráveis
Saída abre espaço para defensores do mercado
Como quase todo ministro da Fazenda, Guido Mantega deixará o cargo em meio a resultados desfavoráveis --afinal, quando as coisas vão bem, o comando da pasta tende a ser mantido.
Sua saída, entretanto, não é uma reprovação da presidente a seu desempenho. Trata-se de um rearranjo da divisão de poder entre as duas correntes de pensamento que disputam a política econômica da administração petista.
Depois de três anos e meio de hegemonia, os partidários de mais intervenção estatal são forçados a abrir espaço para defensores do bom convívio com o mercado.
O primeiro grupo, cujo expoente maior é a própria Dilma Rousseff, migrou da periferia para o centro das decisões do início do governo Lula para cá.
A ascensão e a queda de Mantega, titular mais longevo da Fazenda em tempos democráticos, ilustram como os ciclos econômicos elevaram e derrubaram o prestígio dos desenvolvimentistas.
O petista assumiu a Fazenda em 2006, depois que o líder dos mercadistas, Antonio Palocci, caiu após acusações de frequentar encontros entre empresários e lobistas.
A economia nacional já vivia o que se mostrou o mais sólido período de crescimento desde os anos 1970, graças à expansão do consumo chinês e à consequente alta dos preços das exportações.
Enquanto a alta da arrecadação permitia expandir gastos sem reduzir a poupança do governo, a política econômica manteve o figurino ortodoxo e colecionou números favoráveis.
No final de 2008, porém, o colapso financeiro no mundo desenvolvido desmoralizou os liberais a promoveu uma onda global de intervenções estatais (veja quadro).
No Brasil, o governo expandiu gastos, reduziu juros e multiplicou a concessão de crédito pelos bancos públicos, o que permitiu uma recuperação espetacular da economia e a eleição de Dilma em 2010.
O domínio dos intervencionistas se tornou completo no ano seguinte, quando Palocci, desta vez na Casa Civil, teve de deixar o governo novamente, por dificuldades em explicar seu patrimônio.
Encerrada a disparada dos preços das exportações, porém, a economia esfriou, a arrecadação tributária minguou e os saldos das contas do governo e da balança comercial desapareceram.