Dólar acelera alta e vai a R$ 2,93 com intervenção menor do BC
BC só deve renovar 80% da proteção cambial existente; instabilidade política preocupa
Ações da Petrobras sobem mais de 2% após estatal anunciar venda de ativos; Ibovespa tem alta de 0,5% no dia
O dólar comercial, usado nas transações com o exterior, foi a R$ 2,928 nesta terça (3), o maior valor do ano, com a perspectiva de redução das intervenções do Banco Central no câmbio e a crescente dificuldade do governo para aprovar os cortes de gastos no Congresso (leia mais no caderno "Poder").
A visão corrente é que o Banco Central deverá reduzir as operações que vinha fazendo para conter a alta e a volatilidade do dólar, deixando a moeda americana se valorizar mais nas próximas semanas. Até então, acreditava-se que o BC não deixaria o dólar subir devido à inflação.
O dólar comercial subiu 1,13% e foi a R$ 2,928, número só maior que os R$ 2,94 de 2 de setembro de 2004. Em termos reais (considerando a inflação), no entanto, a cotação de 2004 seria o equivalente hoje a R$ 5,13.
O dólar à vista, referência no mercado financeiro, subiu 0,43% e fechou a R$ 2,904, maior valor desde 14 de setembro de 2004, quando fechou a R$ 2,913 (R$ 5,09 hoje, em valores corrigidos).
A alta não reflete o impasse político criado pela devolução, pelo presidente do Senado, Renan Calheiros, da medida provisória que revê desonerações de folha de pagamento, já que esse anúncio foi feito depois do fechamento do mercado.
O movimento de ontem foi causado pela perspectiva de mudança no principal instrumento do BC para conter a alta do dólar: a venda de contratos que equivalem à compra de dólar no futuro, conhecido como swap cambial.
Nessa operação, o BC se compromete a pagar em reais a variação do dólar em uma determinada data, geralmente o início do mês. Isso retira a pressão sobre a moeda.
Na sexta, o BC anunciou um leilão menor do que o habitual desse instrumento, sinalizando que só deve rolar 80% do total de US$ 9,964 bilhões de contratos existentes.
"O BC está testando qual seria a reação do mercado", disse Fabiano Rufato, gerente da Western Union.
Segundo Sidnei Nehme, diretor da NGO, o contexto geral impele à alta do dólar. "Quando o emocional se afasta e o racional prevalece, o dólar sobe", afirmou.
Desde 30 de janeiro, quando o ministro Joaquim Levy (Fazenda) afirmou que não manteria "artificialmente" o câmbio, o dólar já subiu 11%. No ano, a alta é de 9,67%.
Na Bolsa, o Ibovespa subiu 0,56% e encerrou marcando 51.304 pontos. As ações preferenciais da Petrobras subiram 2,13%, para R$ 9,60, após a empresa anunciar que pretende vender US$ 13,7 bilhões em ativos.