Indústria avança em janeiro, mas cenário ainda é negativo
Setor acumula queda de 3,5% em 12 meses, maior retração em cinco anos
Analista diz que alta de 2% no início do ano é 'ilusão'; especialistas esperam novo declínio na produção em 2015
A indústria cresceu 2% de dezembro para janeiro, após dois meses seguidos de queda, mas o resultado foi visto por analistas como um "soluço", já que não mexe na previsão de uma nova queda do setor neste ano.
Na comparação com janeiro do ano passado, a produção industrial continuou em forte queda (5,2%) e acumula retração de 3,5% em 12 meses --a maior marca desde janeiro de 2010.
Para André Macedo, gerente do IBGE, a "melhora de ritmo de janeiro não inverte a tendência de resultados negativos da indústria".
O avanço de janeiro, segundo Macedo, ocorreu sobre uma "base muito fraca" de comparação e não foi generalizado --a produção cresceu em 13 dos 24 setores pesquisados pelo IBGE.
Impulsionaram a indústria em janeiro setores com quedas expressivas nos últimos meses, como alimentos, máquinas e equipamentos, metalurgia e aparelhos elétricos.
"Os dados não mudam a trajetória de perda do setor."
Para analistas, a atividade industrial se manterá no vermelho neste ano, com enfraquecimento maior do consumo doméstico (crédito e juros mais caros e piora do mercado de trabalho), fraca confiança de empresários com a previsão de retração da economia e estoques que seguem elevados.
Outros agravantes são a crise da Petrobras, com o cancelamento de investimentos e contratos, e o maior custo da energia.
Para Thiago Biscuola, da RC Consultores, "é uma ilusão" ver o dado de janeiro como uma "retomada". Segundo ele, a produção do setor deve cair, ao menos, 1% neste ano --a estimativa deve ser revisada para baixo.
Nem mesmo a desvalorização do real --que favorece as exportações e é uma "barreira" à entrada de produtos importados-- deve ajudar muito a indústria.
A Rosenberg & Associados diz que o câmbio beneficia apenas "alguns setores" e que o efeito será marginal. Mais pessimista, a consultoria prevê uma queda de 3,7% da indústria neste ano.
Rodrigo Miyamoto, do Itaú, afirma que caiu o nível de capacidade instalada da indústria, a confiança de empresários piorou, e os estoques se mantiveram elevados. Isso indica que a indústria não deve sustentar o crescimento de janeiro.
Com a estagnação da indústria, o Bradesco estima queda de 0,5% do PIB do primeiro trimestre.
Assim como a indústria geral, a fabricação de bens de capital (categoria que sinaliza os investimentos e inclui máquinas e equipamentos) reagiu sobre dezembro (9,1%), mas não recompõe perdas anteriores e segue com uma forte queda na comparação com janeiro (16,7%). Esse dado, diz o Bradesco, "reforça o baixo patamar dos investimentos no país".